"Coitadismo"


 


A autopiedade é uma das piores coisas que podemos sentir. Ela nos enfraquece tornando-nos vítimas de um aprisionamento mental desesperador. Quando sentimos dó de nós mesmos acabamos por reclamar todo o tempo e nada fazemos para mudar nossa situação. Infelizmente é grande o numero de pessoas que se utilizam da autopiedade achando que com ela resolvera alguma coisa.

A auto-piedade é uma das sensações mais silenciosas da nossa vida.
Na maioria das vezes é imperceptível, pois o auto-piedoso não pode perceber-se enredado por sí mesmo, e pelas artimanhas que envolvem este sentimento.
 Você já "chorou na frente do espelho", ao ver a sua própria imagem, sentindo pena de si mesmo?...muitos fazem isto, constantemente...e não sabem porque.

 É  um vicio instalado na alma.  Alimentamos o sentimento auto-piedoso, quando sustentamos um sentimento de inferioridade, causado pela insegurança.
É certo que como meio de defesa pessoal e natural, é comum que exista em nós uma certa dose de auto-piedade, mas isto se torna o nosso maior problema quando ultrapassa esta “ linha da normalidade” que é relativizada pelo impulso instintivo.
E qual é a linha da normalidade?
Se uma pedra for atirada em sua direção, você involuntariamente se protegerá. É o reflexo da auto-defesa. E trazendo isto para o campo das emoções ou dos sentimentos, observamos as mesmas reações instintivas de auto proteção sendo exacerbadas na auto-piedade.
Um exemplo disto: Uma pessoa que tem medo de ser traída, investirá tempo e energia procurando indícios do seu próprio medo como forma de auto-proteção.  É o caminho do reflexo natural. Quase inevitável
Visto que a "pena de si mesmo" é um sentimento intrínseco a natureza humana,  devemos saber que traumas, desafetos, abandonos, dores da alma, corações partidos, humilhações, e muitas outras coisas, costumam fazer parte da implantação da auto-piedade em nós, além da linha da normalidade.
Algumas vezes, um abuso sexual na infância, que sempre foi um grito calado na garganta, pela vergonha e humilhação de contar a família, pelo medo  de ser estigmatizado e culpado  e permanece emudecido pela  possibilidade de olhar nos olhos de cabeça erguida, leva-nos a viver  “alisando as próprias penas”, ou sendo verdugos  de nós mesmos. 
As vezes um abandono por parte de um "amor-alguém" pode alimentar isto pelo resto da vida se tornando auto-piedade amargurada. 

Neste sentido, a auto-piedade  pode ser considerada como  um sentimento natural, quando está dentro dos limites instintivos.  Porém a auto-piedade é um sentimento que cresce,  e quanto mais vai sendo alimentado, deixa de ser apenas instintual, para ser vício que adoece e paraliza.

Olhe para  dentro e observe quantas vezes você se torna a vítima de situações que na verdade não deveriam ser tão importantes?
Um olhar que não foi correspondido por alguma distração da outra pessoa, uma palavra não correspondida no momento esperado, uma atenção dividida com outros, por parte de alguem que você ama, etc. O que isto tem provocado em você?... Vitimização?...pena de sí?....Como você reage a estas coisas? Chora?...muda de humor?...Olha pela “janela cinza” da sua existência?....Examine-se a sí mesmo e responda somente para você.
Para superar a autopiedade, em primeiro lugar é necessário olhar para si, como quem se olha de fora, ou como quem pode se auto-analisar.
 É importante saber  que os  nossos  valores não devem ser obtidos pelo critério do julgamento de outros, mas pelo  sabemos   a nosso respeito  pelo  que  conhecemos  de nossas capacidades pessoais .  
 Nós somos de fato o único que poderemos  mudar  o que temos chamado de peso, dores e sofrimentos  em nossa vida e destino .   E o curioso é que quanto mais acreditamos que somos capaz, mais nos tornamos realmente.


             No momento da análise muitas desculpas antes usadas para justificar a autopiedade (não dá, é impossível, não consigo, não me deixam, só se eu fosse mais bonito, só se eu fosse rico, etc.) passam a ser questionadas, colocadas em dúvidas e assim podem ser abandonadas e adotados no lugar pensamentos muitos mais construtivos. Isso significa abandonar a pena de si mesmo e buscar novos significados. É deixar um possível passado desalentador e ir atrás de um futuro mais promissor. Enfim, é trocar um funcionamento onde tudo é ruim por outro que pode enriquecer. A psicanálise é de grande auxílio nesse processo. Ela ajuda a pessoa a investigar e a entender o porquê sua vida não vem sendo vivida com qualidade e a fortalecer a procura por uma vida mais digna.
            Quem estiver preso a autopiedade e estiver incomodado com isso procure ajuda. Não desperdice tempo, pois este passa muito rápido e jamais é recuperado. Use o incomodo para sair dessa posição tão desfavorável para buscar outra que lhe seja muito mais conveniente e benéfica. Nem tudo na vida é sorte, muito é fruto do trabalho que temos em melhorá-la ou piorá-la. Satre costumava dizer que: 
"não importa tanto o que nos acontece, mas o que vamos fazer com o que nos acontece. Tudo depende do que vamos criar para nós mesmos".