O discurso do canalha

Diante de certos ambientes não é muito simples ser conversado ou escrito coisas que habitam o campo do erotismo, do amor, da sexualidade e da satisfação enquanto tal. Isto percorre o mais íntimo de nosso ser e se inscreve como sendo o que há de mais particular de um individuo. Diante disso, não é de todo raro lermos, ouvirmos ou até mesmo sentirmos mulheres realmente identificadas com o "discurso do canalha". O discurso da canalha é quando alguém se faz passar por aquele que acredita saber qual é o bem do outro, que diz qual é o teu desejo, o que você deve fazer, ou seja, é quando alguém se apropria de um lugar indevido para ditar os caminhos de um desejo que é irremediavelmente particular. É quando alguém diz o certo e o errado, a verdade sobre o verdadeiro, o que você deve fazer e escolher. Sempre amputando as contingências de sua própria vida. Lembram daquela sensação de "Ele vai resolver tudo para mim?" ou "Ele sabe como lidar com isso.." "Ele é um imbecil, mas tem pegada"
Afinal, moça, permita-se responder: O que realmente você quer? O que é "pegada"?
Fizemos nossas opções e arcamos com o ônus de nossas escolhas.
De início, é preciso dizer que a sexualidade (não necessáriamente genital) está presente em todas as dimensões da vida familiar, social, econômica, política. Tudo depende da sexualidade, pois ela é estrutura de linguagem, está presente em suas palavras, nas entrelinhas daquilo que é dito ou não, em seu olhar, na sua voz, nos seus comportamentos. Ao optarmos pelo canalha, pagamos um preço, é lógico! Enfrentarmos tropeços e impasses frente às nossas escolhas, responsabilidades, ordenamento de lei. Nesse sentido, o privado funda o público, quer dizer, você precisa ter a ciência de este mesmo canalha, compartilhará outras vidas, já que ele necessita delas, como o próprio ar para sobreviver.
Sim, não é tão fácil manter viva uma relação a dois, suportá-la, administrá-la, contornar suas impossibilidades. Cumplicidades! Mais difícil ainda é poder suportar a magistral exuberância de uma relação com várias sombras a sua volta.
Tenha isso como fetiche, nunca como alvo de "adoração" sexual, pois as sequelas podem não ter o mesmo gosto doce-acido da fantasia. Ele pode se tornar uma droga muito mais forte, muito mais poderosa que a cocaína, você sabia? Ele pode se tornar um vício hediondo, incurável, um prazer sexual fantasiado de algo que você apenas se atrai, mas não conheçe. Seria lutar contra algo invisivel.
Diante disso, tenha em mente que o canalha, pode ser uma saída sintomática, não uma escolha, uma opção de desejo; e dessa forma você acabará se distanciando tanto da relação com o outro sem conseguir mais retornar à realidade de uma vida amorosa. Tente fazer este retorno e transformar quem lhe toma ou tomou a vida em algo experiente..um estágio..um aprimoramento, pois se pensar desta forma, você certamente estará preparada para quando o "verdadeiro homem" chegar não somente para o "macho parasita" que surgiu em algum momento de sua vida.