A Transferência Professor-Aluno.

A Transferência não é um termo da psicanálise. É um vocábulo utilizado em diversos campos, denota-se, sempre uma idéia de transporte, de deslocamento, de substituição de um lugar para o outro. Freud aponta-o como um fenômeno psíquico que se encontra presente em todos os âmbitos das relações com nossos semelhantes. Ele reconheceu a possibilidade de que a transferência acontecia na relação professor-aluno. Na relação professor-aluno, está implicada uma relação de amor, uma relação afetiva. Uma relação de confiança de valorização do conhecimento, da revelação das habilidades e potencialidades do outro, só é possível através da afetividade. Com o afeto a criança se redescobre, se percebe, se valoriza, aprende a se amar transferindo este afeto em suas vivências e consequentemente na aprendizagem escolar. A noção de transferência pode contribuir para entender esta relação que envolve interesses e intenções, pois a educação é uma das fontes mais importantes do desenvolvimento comportamental e agregação de valores nos membros das espécies humanas.

Becker, (1997,111-112), afirma que na transferência, constituir uma identificação simbólica é uma forma de desenvolver ao adolescente sua posição discursiva. Verificar-se, que o aluno precisa admitir estar numa relação transferencial com o professor que não estar ali só para transferir informações, mais para considerar cada aluno singularmente. O sujeito do qual ocupa a psicanálise é o sujeito do inconsciente enquanto manifestação única e singular. Para o aluno ser tomado como sujeito é necessário que o educador também o seja, que envolva sua prática com aquilo que lhe é peculiar, o estilo. Logo a relação professor-aluno depende fundamentalmente do clima estabelecido pelo professor, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles.


Do Ponto de vista da psicanalista Melaine Klein (1.926), as crianças desenvolvem a transferência de suas mais intensas fantasias, ansiedades e defesas em casa, na creche, na escola, nos diferentes momentos do dia, no convívio escolar e durante as aulas. O educador deve estar atento às manifestações da criança, ele precisa envolver-se com esta criança e procurar levá-la a se perceber, estimular a manifestar, encorajá-la, a tentar experimentar, elogiar suas primeiras tentativas, permitindo-lhe a personificação de papéis sociais presentes em sua realidade, estimulando a criar situações e reproduzi-las a brincar. O educador sendo o mediador fora de sua convivência familiar torna-se um grande interventor para o desenvolvimento emocional e cognitivo dos alunos.

Quando é possível ver o afeto nas ações dos alunos diante das propostas dos educadores, constata-se que houve transferência positiva à aprendizagem, há possibilidades de superação dos conflitos internos, será possível aprender e crescer. Conforme Melaine Klein(1926), só o contato direto da criança com a sua realidade psíquica – impulsos, dores, fantasias inconscientes – poderia ajudá-la a encontrar melhores formas de aceitação da realidade e a renunciar a determinadas defesas contra as angustias.A psicopedagoga Leila Sarah Chamat (1997), afirma que um bloqueio na afetividade impede um vínculo saudável ou afetivo entre o ser que ensina e o ser que aprende, seja na família ou escola. Com o trabalho centrado no vínculo pode-se trabalhar os medos, desejos e ansiedades, auxiliados pela transferência de papéis quando a criança pode desenvolver e “buscar sua comidinha”, ou seja, o vínculo com a mãe.

Seria bom, se todos os professores conhecessem ao menos o conceito de transferência, para melhor entender a sua relação com o aluno. Pois ele pode ser um suporte dos investimentos de seu aluno, porque é objeto de uma transferência. Privilegiar a singularidade do aluno é um aspecto que deve merecer atenção central.



KPFER, MARIA CRISTINA MACHADO. (2000) Educação para o futuro: Psicanálise e Educação. São Paulo: Escuta 162p

KPFER, M. C. Freud e a educação: o mestre do impossível. São Paulo. Scipione, 1989

CHAMAT, Leila Sarah. Relações Vinculares e Aprendizagem:Um enfoque Psicopedagógico. Editora Vetor. São Paulo. 1997.

SEGAL,Hanna. Melanie Klein: Amor, Culpa e Reparação. Editora Imago. Rio de Janeiro.1996

BECKER, F. Da ação à operação: o caminho da aprendizagem em J.piaget e Paulo Freire. Rio de Janeiro: DPIA Editora Palmarinca, 1997