O Mito da Felicidade


A pressão por ser feliz pode atrapalhar seu caminho para viver melhor. Novos estudos propõem como cada um pode encontrar seu próprio bem-estar.

Fotos: reprodução

A resposta de qualquer pai ou mãe, questionado sobre o que deseja para os filhos, está sempre na ponta da língua: “Só quero que sejam felizes”. A frase não deixa dúvidas de que, numa sociedade moderna, livre de muitas das restrições morais e culturais do passado, a felicidade é vista como a maior realização de um indivíduo. Até governos nacionais se viram na obrigação de fazer algo a respeito. Neste ano, a China e o Reino Unido anunciaram a intenção de medir o grau de felicidade de seus habitantes. Os governantes, espera-se, querem o melhor para seu país, assim como os pais querem o melhor para seus filhos. Mas a ambição de sempre colocar um sorriso no rosto pode ter um efeito contrário. A pressão por ser feliz, condição nada fácil de ser definida, pode acabar reduzindo as chances de as pessoas viverem bem.
“Perseguir apenas a felicidade é enganoso”. Segundo i estudo, a felicidade pode tornar a vida um pouco mais agradável. E só. Em seu lugar, o ser humano deveria buscar um objetivo mais simples e fácil de ser contemplado: o bem-estar.
A felicidade (emoções positivas), quem diria, seria apenas um deles, ao lado de propósito, realização, engajamento e relações pessoais (saiba mais no quadro abaixo). “O que eu pensava dez anos atrás era parecido com o que Aristóteles dizia, que havia um único objetivo final, a felicidade”, afirma o americano. Mas ele observou que, muitas vezes, decidimos fazer coisas que não melhoram exatamente nosso humor. Como, por exemplo, ter filhos.
O que importa para viver bem
Muitos estudiosos afirmam que a felicidade é só um dos elementos responsáveis por nosso bem-estar. Conheça os outros
Ilustrações: Andrea Ebert; Foto: Eugenio Sávio/ÉPOCA 
Para casais estabelecidos, que sonham com uma família, a notícia de uma gravidez costuma levar pai e mãe às nuvens. O nascimento da criança é motivo de celebração, com direito a vídeo do parto e incontáveis fotos. Mas, segundo pesquisas de opinião, a alegria dura pouco, e nossa percepção de felicidade diminui nos primeiros anos de vida das crianças. Uma provável explicação para o resultado seria que, ao responder ao questionário, somos influenciados por fatores comezinhos, como as noites maldormidas e as fraldas sujas. De qualquer forma, apesar disso, as pessoas continuam a ter filhos porque, mais do que alegria, eles dão sentido a nossa existência.
Eugenio Sávio/ÉPOCA
Grávida de sete meses de Francisco, hoje com 4 anos, Cristiana enfrentou uma tragédia: o pai do bebê, seu namorado, Guilherme Fraga, morreu após uma parada cardíaca, aos 38 anos. Em luto, ela começou a escrever um blog, Para Francisco, em que apresentava o pai ao filho. Por meio dos textos, Cristiana não só superou a dor, como descobriu uma nova vocação, a de blogueira. Lançou um blog de moda, o Hoje Vou Assim, que se tornou fonte de satisfação e renda
A ideia de que a vida é mais do que a busca de sensações positivas não é nova. Ao escrever que a felicidade é o motivo por trás de todas as razões humanas, Aristóteles não defendia viver apenas em busca de emoções positivas e prazeres. Para o filósofo grego, ser feliz era praticar a virtude. Mesmo Thomas Jefferson, que alçou a felicidade a um direito na declaração de independência americana, em 1776, não defendia ser feliz acima de qualquer coisa, como queremos hoje. No livro A democracia na América, Alexis de Tocqueville afirma que, para Jefferson, a felicidade envolvia conter desejos para obter objetivos de longo prazo. O que muitos afobados de hoje resistem em fazer.
A noção de que a felicidade é um objetivo tangível – e não um horizonte que norteia nossas ações – só se tornou dominante na sociedade moderna. Sua base vem do iluminismo, que colocou o indivíduo – e suas necessidades – no centro das preocupações humanas. É dessa época a teoria utilitarista, que defendia a busca da maior quantidade de felicidade para o maior número de pessoas. Para o jurista e filósofo inglês Jeremy Bentham, a felicidade era a vitória do prazer sobre a dor. A partir do século XVIII, começou a ganhar força a ideia de que temos de evitar as sensações negativas. O principal problema dessa filosofia de vida é basear-se em princípios muito frágeis e efêmeros: as emoções. “Os sentimentos positivos e negativos não podem ser entendidos como fins em si mesmos”, afirma a pesquisadora norueguesa Ragnhild Bang Nes, do Instituto de Saúde Pública do país.
Rogério Cassimiro/Época
Nascido em Maceió, João Baptista tinha 20 anos quando deixou para trás a família e abraçou a vida religiosa em um convento em Goiânia. Hoje, vive em São Paulo, onde é responsável pela biblioteca do Mosteiro de São Bento. Para ele, abdicar dos prazeres mundanos pela clausura da vida monástica não foi um peso: faz parte do propósito que escolheu para sua existência
As emoções negativas, embora desagradáveis, podem servir de alerta para o indivíduo de que há um problema que precisa ser resolvido ou prepará-lo para experiências futuras. Como uma espécie de teste, elas parecem desafiar nossos planos de viver bem. A publicitária mineira Cristiana Guerra sabe como poucos o que é enfrentar situações difíceis e ser obrigada a superá-las. Aos 24 anos, perdeu a mãe e, aos 31, o pai, ambos para o câncer. Casada, chegou a engravidar duas vezes, mas perdeu os bebês. Aos 36, em um novo relacionamento, o sonho de ser mãe foi realizado, mas o pai de Francisco não chegou a conhecê-lo. Guilherme Fraga, então com apenas 38 anos, morreu após uma parada cardíaca quando Cristiana estava no sétimo mês de gravidez. “No dia em que Francisco nasceu, eu chorava, chorava. Meio de alegria, meio de tristeza.”
Para lidar com mais esse trauma, Cristiana decidiu escrever. Quando o bebê estava com 4 meses, transformou as anotações que já fazia em seu diário em um blog, batizado de Para Francisco. A ideia inicial era reunir num só lugar textos contando para o filho como era o pai que ele não conheceu. “Eu passava as madrugadas escrevendo e chorando. E cada vez que conseguia expressar o que era aquela tristeza, e as pessoas entendiam e compartilhavam seus sentimentos comigo, me dava uma alegria muito grande. Aquilo já era uma forma de felicidade”, diz Cristiana. Ao longo dos anos, as seguidas perdas foram responsáveis por uma espécie de transformação interior. “Acabei criando um senso de sobrevivência muito grande.”
Cinco caminhos para o bem-estar
Dicas da New Economics Foundation para conquistar uma vida melhor
reprodução/Revista Época
A história de Cristiana é um exemplo de como é possível olhar a vida de uma perspectiva positiva mesmo em situações difíceis. Segundo especialistas, os otimistas, como ela, têm mais chance de viver um processo de crescimento pós-traumático – a versão positiva do transtorno de estresse pós-traumático de que tanto se fala. Não que Cristiana não tenha sofrido e chorado muito. Mas ela conseguiu encontrar no trauma uma fonte de força pessoal. Pesquisas feitas com veteranos de guerra mostram que a maioria – cerca de 80% – é capaz, assim como Cristiana, de transformar em algo positivo um evento traumático. Um fator importante para conseguir superar a dificuldade é o otimismo. “Os otimistas são mais esperançosos, resilientes, saudáveis e têm um desempenho melhor do que o esperado no trabalho, na escola e nas relações”, afirma Martin Seligman. “Eles pensam que os efeitos das dificuldades são temporários, e suas causas, específicas, delimitadas. E que a realidade é mutável.”
É consenso entre os pesquisadores que grande parte da felicidade, assim como a personalidade, é determinada já no nascimento. “A genética explica quase metade da variação da felicidade”, diz Ragnhild Bang Nes, do Instituto de Saúde Pública da Noruega. Mas, se a felicidade já está inscrita nos genes, não podemos alterá-la? Segundo Martin Seligman, é possível aumentar a duração e a intensidade das emoções positivas, mas a melhoria esbarra num teto: a personalidade de cada um. O conformismo, então, é o que nos resta? Não, responde Seligman. Para ele, a principal vantagem da teoria do bem-estar é permitir a qualquer um, independentemente de sua personalidade ou condição de vida, avançar para uma situação melhor. Como viver bem dependeria não só das emoções positivas, mas também de outros quatro fatores, cada um pode encontrar seu próprio caminho. “Minha razão para negar um lugar privilegiado para a emoção positiva é a libertação”, afirma o psicólogo em seu livro. “A visão de que a felicidade está ligada ao humor condena 50% da população do mundo, que é introvertida, ao inferno da infelicidade.” Na teoria do bem-estar, ou do florescimento, quem não é “para cima” pode compensar adicionando propósito e engajamento à própria vida. Por esse raciocínio, nem todo mundo conseguiria ser exatamente feliz, mas todos podem viver bem.
Saber disso tira uma tonelada de ansiedade de nossos ombros. Em vez de tentar se adaptar a outro jeito de ser, de buscar o bem-estar em terras longínquas, é possível cultivar um jeito próprio de viver bem. O administrador Leonardo Grespan encontrou seu bem-estar no trabalho diário e, para isso, abriu mão de prazeres imediatos. Em fevereiro deste ano, completou 31 anos, mas não pôde comemorar. Naquela sexta-feira, chegou ao escritório às 9 horas, só saiu à meia-noite e, no domingo, enfrentou mais um plantão de 15 horas de trabalho. Tudo por causa da fusão dos bancos Real e Santander, concluída naquele fim de semana. Seu desejo de celebrar uma data especial deu lugar às obrigações profissionais, que implicavam desgaste físico e emocional, algo com que muitos se acostumam em nome de um objetivo maior. “Ver um projeto a que você dedicou mais de um ano dar certo traz uma satisfação indescritível”, diz Grespan, gerente de projetos no Santander. “Tem de realmente vestir a camisa do que você faz. Senão, não faz sentido.” O trabalho em excesso pode ter limitado as sensações de felicidade, mas certamente não lhe faltaram realização e engajamento, dois dos cinco fatores que, de acordo com Martin Seligman, compõem a condição plena de bem-estar.
Enquanto trabalhava incansavelmente para atingir seus objetivos – e os de sua empresa –, Leonardo Grespan provavelmente experimentava aquilo que especialistas chamam de “estado de fluxo”, termo criado pelo psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi. Nele, nós nos fundimos com o que fazemos. Não interessa a atividade, o importante é que ela desafie nossa capacidade e nos mantenha ocupados. “Temos tão pouco tempo que a melhor coisa é gastá-lo com coisas de que gostamos”, diz o monge João Baptista Barbosa Neto, de 29 anos, um dos 45 religiosos que vivem no Mosteiro de São Bento, em São Paulo. Membro da ordem beneditina, João Baptista adota a reclusão como forma de vida – e de proximidade com Deus – e segue uma rotina rigorosa e pontual de rezas e trabalhos diários dentro do mosteiro. Seu dia tem início às 5 horas, com a primeira oração, e se encerra às 19 horas, com a última. Ele também aprendeu a conviver com a saudade da família, que deixou em Maceió, quando, aos 20 anos, foi morar em um convento em Goiânia. Todos os sacrifícios ficam leves porque fazem parte de um propósito – outro componente do bem-estar, segundo a teoria de Seligman –, o sentido que João Baptista dá a sua vida. “Tive de me adaptar à reclusão, mas esta foi a vida que busquei.”
Stefano Martini/Época
Dos 3 aos 23 anos de idade, o principal propósito da vida de Ricardo Prado era o esporte. Para ele, a felicidade tinha a forma de uma medalha, conquistada com muitos sacrifícios. Mas a fórmula que funcionou por 20 anos se esgotou, e Ricardo decidiu buscar seu bem-estar fora das piscinas. “O momento mais feliz de minha vida? Talvez eu não tenha vivido ainda. Mas tive uma vida de muitos momentos felizes”
No caso do ex-nadador Ricardo Prado, por muitos anos o propósito maior foi o esporte. Para ele, a felicidade tinha a forma de uma medalha de ouro, em particular a que guarda desde 1982, quando, aos 17 anos, venceu o Campeonato Mundial de Natação, no Equador. Além de chegar em primeiro, quebrou o recorde mundial dos 400 metros medley. Nos dois anos seguintes, ainda garantiria ao país duas medalhas de ouro e duas de prata nos Jogos Pan-Americanos de Caracas e uma de prata nas Olimpíadas de 1984, em Los Angeles. “Não sou competitivo. Mas ganhar dá uma sensação de missão cumprida”, diz.
As conquistas não vieram de graça. Ricardo começou a nadar aos 3 anos, no clube da cidade, o caçula de cinco filhos em uma família simples de Andradina, no interior de São Paulo. No início da década de 70, fazer algum esporte era uma forma de conseguir bolsa de estudos em bons colégios e, com sorte, viajar mundo afora. Aos 15 anos, o nadador mudou-se para a Califórnia, onde, além de completar os estudos, passou a treinar no time de Mission Viejo. “Às 5 horas da manhã, eu começava a nadar, às 8, ia para a aula, depois fazia uma hora de musculação e no fim do dia nadava novamente. Praticamente não tinha vida social”, diz. “Mas aquilo já era a felicidade! Eu estava na Califórnia, entre os melhores nadadores do mundo. E eu ganhava de todos eles.”
A vida de competições e treinos puxados não era fácil. Diante das dificuldades extras enfrentadas pelos atletas brasileiros nos anos 80, Ricardo decidiu encerrar a carreira aos 23 anos de idade. “Eu estava cansado. Mas é uma transição difícil, você deixa uma vida inteira para trás e tem de se adaptar a outra.” A nova vida de Ricardo Prado incluiu uma pós-graduação em economia, dar aulas particulares de natação e treinar equipes. Hoje, faz parte da organização das Olimpíadas do Rio de Janeiro e, aos 46 anos, arrisca a dizer que a verdadeira felicidade talvez esteja fora da água. “O momento mais feliz de minha vida? Talvez eu não tenha vivido ainda.”
Histórias como a de Cristiana, Leonardo, João Baptista e Ricardo mostram que o bem-estar pode ser alcançado mesmo diante de privações, desgastes, tragédias e mudanças, numa jornada que depende, essencialmente, de nós mesmos. Os brasileiros parecem concordar com a ideia. Uma pesquisa inédita (leia os resultados no quadro abaixo) encomendada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revelou que 61% acreditam que sua felicidade depende de si mesmos. A opinião é corroborada por estudos científicos, que mostram que a personalidade é o que mais influencia a felicidade. A ciência discorda, contudo, da importância que os brasileiros dão a alguns fatores externos, como o dinheiro, especialmente para quem já tem uma boa situação financeira. Nesse caso, estudos sugerem que o dinheiro só faz diferença se o aumento de renda for só seu, e não de todos a seu redor. “Para os mais ricos, felicidade é estar mais alto no ranking do que seus pares”, diz o pesquisador tailandês Nick Powdthavee, de Cingapura, e autor de The happiness equation (A equação da felicidade), 2010. Mas Seligman alerta: “Quem se baliza pela comparação social é menos satisfeito com a vida do que aqueles que levam em conta valores individuais”. É importante também saber como gastar seu dinheiro. Um estudo da Universidade de Chicago analisou nove categorias de produto e viu que apenas uma, a do lazer, estava ligada à felicidade. Seu efeito positivo parece estar ligado ao aumento do contato social. “O dinheiro tem uma relação positiva com a felicidade, mas esta é pequena se comparada com fatores não monetários, como as relações sociais”, afirma Powdthavee.
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No livro Felicidade: lições de uma nova ciência (BestSeller, 2008), o economista britânico Richard Layard coloca as interações sociais – de amizades ou amorosas – como os fatores externos mais importantes de nossa vida. Em sua pesquisa, as pessoas que começam a ver seus amigos quase todos os dias reportaram, ao final de um ano, um nível de felicidade 0,161 mais alto (num total de 7). Isso é mais que o efeito do primeiro ano de casamento, responsável por um aumento de 0,134 na felicidade do casal. O tipo de amizade também é importante, e é melhor que seus amigos sejam bem-humorados. Segundo o médico e sociólogo Nicholas Christakis, autor do livro O poder das conexões (Campus, 2009), a felicidade é contagiosa – assim como a depressão. Cada amigo feliz de nossa rede aumentaria em 9% nosso próprio bom humor – enquanto um amigo infeliz causaria uma queda de 7%. Mas a solução não seria sair correndo atrás de muitos amigos. Em tempos de Facebook, Orkut e outras redes virtuais, em que alguns expõem orgulhosos listas com mais de 2 mil “amigos”, é importante saber qual é sua verdadeira e sólida base social. Segundo o biólogo evolucionista Robin Dunbar, o cérebro humano só é capaz de lidar com 150 amizades ao mesmo tempo. No grupo mais íntimo – e mais importante –, estariam só cinco pessoas. Mas não existem regras. Há quem consiga melhorar seu bem-estar criando relações melhores com mais pessoas e há também quem se sinta confortável com cinco. “Uma das principais sabedorias é respeitar a característica de cada um”, diz a psicóloga Cláudia Giacomoni, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Obtido o desejado nível de bem-estar, muitos podem perguntar se a conquista seria duradoura. Embora parte dos brasileiros cite a juventude como um fator importante para se sentir feliz, estudos mostram que nosso bem-estar aumenta com o passar dos anos. É verdade que a infância é uma fase propensa a uma grande dose de felicidade, mas o mesmo pode ser dito da terceira idade. Pesquisadores descobriram que, com o envelhecimento, há um aumento de bem-estar. As dificuldades surgem mesmo durante a vida adulta, repleta de desafios, pressões e inevitáveis frustrações. A explicação para essa evolução estaria nas mudanças internas, e não em nosso entorno. Com o passar do tempo, nosso comportamento muda. As pessoas mais velhas brigam menos, sabem como solucionar um conflito, controlam melhor suas emoções e aceitam mais os infortúnios. Há várias teorias sobre por que isso acontece. Laura Carstensen, professora de psicologia da Universidade Stanford, afirma que os mais velhos sabem o que realmente importa e, por isso, focam no essencial. Com isso, aliviam a pressão pela felicidade imediata e se aproximam do bem-estar. Como diz o historiador Richard Schoch, autor do recém-lançado A história da (in)felicidade, quando a felicidade está ligada a algumas condições, deixa de ser um direito de todo ser humano e se torna um privilégio de poucos. Ele diz que basta que tenhamos nascido para termos o direito e a capacidade de ser feliz. Para que esse objetivo não pese sobre nossos ombros, em vez de nos lançarmos numa incessante busca da felicidade – muitas vezes infrutífera –, deveríamos apenas descobrir como viver bem, a nossa própria maneira.

A síndrome de Munchausen por procuração


A síndrome de Munchausen é uma doença psiquiátrica em que o paciente, de forma compulsiva, deliberada e contínua, causa, provoca ou simula sintomas de doenças, sem que haja uma vantagem óbvia para tal atitude que não seja a de obter cuidados médicos e de enfermagem.

A síndrome de Munchausen "by proxi" (por procuração) ocorre quando um parente, quase sempre a mãe (85 a 95%), de forma persistentemente ou intermitentemente produz (fabrica, simula, inventa), de forma intencional, sintomas em seu filho, fazendo que este seja considerado doente, ou provocando ativamente a doença, colocando-a em risco e numa situação que requeira investigação e tratamento.

Às vezes existe por parte da mãe o objetivo de obter alguma vantagem para ela, por exemplo, conseguir atenção do marido para ela e a criança ou se afastar de uma casa conturbada pela violência. Nas formas clássicas, entretanto, a atitude de simular/produzir a doença não tem nenhum objetivo lógico, parecendo ser uma necessidade intrínseca ou compulsiva de assumir o papel de doente (no by self) ou da pessoa que cuida de um doente (by proxy). O comportamento é considerado como compulsivos, no sentido de que a pessoa é incapaz de abster-se desse comportamento mesmo quando conhecedora ou advertida de seus riscos. Apesar de compulsivos os atos são voluntários, conscientes, intencionais e premeditados. O comportamento que é voluntário seria utilizado para se conseguir um objetivo que é involuntário e compulsivo. A doença é considerada uma grave perturbação da personalidade, de tratamento difícil e prognóstico reservado. Estes atos são descritos nos tratados de psiquiatria como distúrbios factícios.

A síndrome de Münchausen por procuração é uma forma de abuso infantil. Além da forma clássica em que uma ou mais doenças são simuladas, existem duas outras formas de Munchausen: as formas toxicológicas e as por asfixia em que o filho é repetidamente intoxicado com alguma substância (medicamentos, plantas etc) ou asfixiado até quase a morte.

Frequentemente, quando o caso é diagnosticado ou suspeitado, descobre-se que havia uma história com anos de evolução e os eventos, apesar de grosseiros, não foram considerados quanto a possibilidade de abuso infantil. Quando existem outros filhos, em 42% dos casos um outro filho também já sofreu o abuso (McCLURE et al, 1996). É importante não confundir simulação (como a doença simulada para se obter afastamento do trabalho, aposentar-se por invalidez, receber um seguro ou não se engajar no serviço militar). Alguns adolescentes apresentam quadro de Munchausen by self muito similares aos apresentados por adultos.

A doença pode ser considerada uma forma de abuso infantil e pode haver superposição com outras formas de abuso infantil. À medida que a criança se torna maior há uma tendência de que ela passe a participar da fraude e a partir da adolescência se tornarem portadores da síndrome de Münchausen clássica típica em que os sintomas são inventados, simulados ou produzidos nela mesma. Ao contrário do abuso e violência clássica contra crianças as mães portadoras da síndrome de Münchausen by proxy não são violentas nem negligentes com os filhos.

O problema, descrito a primeira vez por Meadow em 1977, é pouco conhecido pelos médicos e sua abordagem é complexa e deve envolver além do médico e enfermagem, os especialistas na doença simulada, Psicanalistas/Psiquiatras/Psicólogos.

Descontruindo

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Depois de um tempo clínico começamos a perceber certas coisas importantes nos ensinamentos teóricos mais confortáveis a nossa maneira de contrução psíquica. É natural certas reações e comparações sobre o ortodoxo e o contemporâneo, mas é notável as diferenças e sentidas as percepções.
De início, havia a preocupação de entender, de encaixar uma coisa na outra, de “dar um sentido” ao emaranhado de sem sentidos que parece ser a teoria psicanalítica. Mas depois de caminhar, depois de vislumbrar as paisagens que se esboçavam as fronteiras da  Psicologia, compreendo as cruciais diferenças entre as áreas co-irmãs. Sendo nós profissionais teorizadores ou teorizantes, em um dia qualquer destes, nos pegaremos perambulando cobertos de ouro e prata, no meio do deserto do Sinai, embora enriquecidos, não nos salvará a vida profissional tais riquezas. 
Meu encontro com a Psicanálise Contemporânea não representa necessariamente algo sugestivo para ninguém, embora tenha sido significante para mim, para você, pode não ser nada questionador.
Para ser sincero, li e reli alguns discursos contemporãneos e, não entendi absolutamente nada. Era como se uma barreira se interpusesse entre mim e eles. Algo me impedia de penetrar a experiência que se tentava transmitir naquele texto. Nada se fixou em minha memória. Sabia apenas que se aludia a algo parecido com a experiência do artista, interrogando os ouvintes sobre qual era  sua própria construção artística.
 Passado algum tempo, me percebi nesta frases “Nenhuma narrativa com pretensões de ser uma exposição de fatos (...) merece, realmente, enquadrar-se na categoria de ‘descrição factual’ do ocorrido”.
“Não se atribue à memória a importância que comumente lhe é conferida”.  O motivo é simples: as distorções involuntárias, que a própria Psicanálise aponta como inevitáveis, tornam improvável qualquer relato factual. A memória seria, portanto, “tão somente é uma comunicação pictórica, de uma experiência emocional” uma formulação verbal de imagens sensoriais. 
Talvez, para alguns, esta possa parecer uma constatação inocente e óbvia, mas, a meu ver, ela desestabiliza todo o saber, pois insere à base de qualquer formulação verbal a desconfiança de que aquilo seja apenas uma representação interna e, em última análise, um expediente para fugir da angústia do vazio que rodeia nossa ignorância. 
A ilusão de ter captado o real, o factual seria neste caso apenas uma tentativa psicótica de fugir do desafio que o factual nos impõe. Pois, na realidade, o que se quer evitar é de entrar em contato com a turbulência emocional que se situa à base da ignorância acerca do fato.
A turbulência emocional à qual me refiro, constata que o ser humano abomina o vazio. Por esta razão, “ele vai tentar preenchê-lo encontrando alguma coisa que entre naquele espaço que foi revelado pela sua ignorância”
O problema, de fato, é saber tolerar a frustração, o senso de vazio e a angústia que a ignorância nos impõe. Neste sentido, se a frustração não for suportada, todo saber “teórico-científico” pode se tornar um simples tapa-buraco. Isto me levou a perceber, desde o primeiro dia em que me deparei com a complexa trama do pensamento psicanalitico contemporâneo, que, por trás, havia não apenas uma simples teoria, mas uma postura existencial desafiadora.
 Compreender tornou-se, portanto, um desafio a não querer “possuir” o meu pensamento, aceitar a minha ignorância, o meu não saber psicanalítico. 
É dificil por muitas vezes aceitar, mas é correto afimar que um bom analista deve saber ser tolerante à frustração, sabendo “suspender” sua memória e seu desejo. 
“Não há lugar para o desejo na análise; não há lugar para a memória (...). O desejo de ser um bom analista é um obstáculo para que se seja um analista”.
Embora bastante conhecida e citada, esta frase, não deixa de ser paradoxal e desafiadora. Isto significa, por exemplo, que o analista deve prescindir na análise do desejo de “cura”, mesmo porque o conceito de cura implica no conceito de sanidade e na tentativa de encaixar o paciente num esquema teórico de sanidade. 
A presença do desejo também cria uma ranhura, excluindo tudo o que não se encaixa no desejo do analista, e reduzindo assim o campo da escuta. 
Existe depois a tentação de encaixar o que o paciente está dizendo nas teorias aprendidas, disparando, a seguir, em cima dele, uma “interpretação” cientificamente correta, baseada em alguma memória.
 Perceba nesta frase “à idéia de que a Psicanálise é uma tentativa de fazer uma abordagem científica da personalidade humana”. Mas, será que o analista lembra que está lidando com gente de carne e osso (real people). 
Nada pode ser descartado, tudo precisa ser observado e examinado com muito cuidado, caso contrário o analista poderá “jogar fora a necessária centelha vital”, que se encontra escondida no meio dos escombros. Será esta fagulha, a capacidade de reverie (reverter) do analista, que pode fazer com que as cinzas de uma relação analítica se tornem uma fogueira, favorecendo a transformação dos elementos Beta em elementos Alfa, em algo que pode ser pensado pelo paciente. 
 Esta capacidade de escuta do analista, não apenas limitada ao contexto verbal, onde muitas vezes a presença dos objetos rompidos, se capt apela simples presença de uma mudança física no paciente, uma mudança sutil, às vezes na respiração, no tom muscular, no olhar, na maneira de sentar-se.
Isto é muito importante, pois há no paciente psicótico uma grande dificuldade em relação à linguagem verbal, por exemplo.
Para concluir é importante fazer a diferenciação entre o que é right (certo) e o que é true (verdadeiro). 
De acordo com a conteporâneidade Psicanalítica, o que caracteriza o pensamento psicótico é a onisciência, que substitui a discriminação entre  verdadeiro e o falso “por uma afirmação ditatorial de que uma coisa é moralmente certa e outra errada”.
Haveria portanto “um conflito em potencial entre afirmar-se que algo é verdadeiro e afirmar-se que algo é moralmente superior”, isto porque “a pretensão de uma onisciência que negue a realidade, seguramente faz com que a moralidade, que nessas condições se forma, seja uma função da psicose”
Diante disso é interessante aqui frisar a impossibilidade ou, pelo menos, a dificuldade para o  ser humano de ter acesso ao Ser. Resta de fato a grande questão de saber se o que é real para mim é também real para o outro, ou, dito de outra forma, se o que eu considero real não é apenas uma alucinação do real. 
Isto nos joga  na necessidade de estar constantemente aberto para discernir o que é verdadeiro daquilo que é falso, sabendo porém que nunca poderá afirmar com certeza que aquilo que é verdadeiro,  para ele é também o certo.



Glossário de Sentimentos

SAUDADE é quando, o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue;
LEMBRANÇA é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo;
ANGÚSTIA é um nó muito apertado bem no meio do sossego;
PREOCUPAÇÃO é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento;
INDECISÃO é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa;
CERTEZA é quando a idéia cansa de procurar e pára;
INTUIÇÃO é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido;
PRESSENTIMENTO é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista;
VERGONHA é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora;
ANSIEDADE é quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja;
INTERESSE é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento;
SENTIMENTO é a linguagem que o coração usa quando precisa mandar algum recado;
RAIVA é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes;
TRISTEZA é uma mão gigante que aperta seu coração;
FELICIDADE é um agora que não tem pressa nenhuma;
AMIZADE é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros;
CULPA é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas geralmente não podia;
LUCIDEZ é um acesso de loucura ao contrário;
RAZÃO é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato;
VONTADE é um desejo que cisma que você é a casa dele;
PAIXÃO é quando apesar da palavra «perigo» o desejo chega e entra;
AMOR é quando a paixão não tem outro compromisso marcado.
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Violino, Violão ou Violoncelo?

Hoje é inquestionável o poder da informação instantânea e de como este fator já faz parte de nossa vida. Pensando assim, hoje resolvi escrever atendendo um pedido especial, pois o conhecimento é um dos poucos bens que possuimos, em que adquirimos muito mais, quando o dividimos.
Antes de entrar própriamente no tema, é importante lembrar que este não é um artigo formal e seria muitissimo "chato" e de difícil compreensão se assim o fosse, portanto, este post é uma humilde tentativa de tradução de um problema que nos cerca, sem muitas vezes percebemos: 
O BDD (Body Dysmorphic Disorder) ou TDC (Transtorno Dismórfico Corporal).

Viram como não tem graça alguma ficar citando nomes?? Mas por responsabilidade isso é necessário.
Lembrando que estou tentando fazer uma "tradução" intelível, vamos lá:

Este transtorno é incluso entre os transtornos hipocondríacos, e este boa parte das pessoas conhece, mas pensem que a hipocondria é um enfermidade mental em que há depressão e preocupação obsessiva com o próprio estado de saúde: O individuo, por efeito de sensações subjetivas, julga-se preso a condições péssimas (sendo na realidade inexistentes) e passa a procurar, permanentemente, tratamentos que, além de descabidos, são muitas vezes perigosos (medicações, intervenções cirúrgicas, etc.:
Pois é, muitas pessoas acreditam que isso acontece na maioria nas mulheres, mas isso não é verídico. As proporções são iguais em homens e mulheres, sendo manifestados normalmente na terceira década de vida. O começo, alguns estudos demonstram que a clinicamente se dá na adolescência, época em que o indivíduo está mais preocupado de sua autoimagem na vida social.

Existem dois picos: Um na adolescência no inicio da idade adulta e outro, somente em mulheres, durante a menopausa.

É um transtorno crônico, intensidade variável, com oscilações e altos e baixos dos sintomas
Biológicamente falando, existe certa alteração na na fisiopatología da serotonina, ou seja certos remédios denominados inibidores da recaptação da serotonina são úteis no tratamento.  A serotonina atua mantendo idéias e pensamentos sob controle.
Seguimos a "saga de não cair na chatice", mas afinal Cleber, que fatores psicológicos desencadeiam isso? Bom, meninas e meninos...Os ansiosos, perfecionistas, tristes, são mais suscetíveis de desenvolver este transtorno. Calma lá, quase todos nós somos ansiosos, muitos se acham perfecionistas e triste podemos ficar...Não vista os sintomas, por favor...A desproporcionalidade é a causadora. Algumas experiências emocionais vividas, principalmente na infância (em algumas épocas não sabiamos o que era Bullying, lembram), são de certo modo a origem de personalidades suscetíveis, com baixa auto estima, insegurança introversão, dificuldade de relacionamento interpessoal, pessoas tendentes à solidão, insociabilidade, introspeção e má adaptação à realidade exterior etc.
Sei que este tópico vai ficar "gigante", mas lembrem-se que é apenas um resumo e estou tentando ao máximo, reduzir os temos, mas não podemos deixar de fora os fatores sociais e culturais, como: Apelos publicitários nos meios de comunicação que propagam a compra de cremes, loções, aparelhos para tornar o corpo esbelto. Os defeitos que são objeto de preocupação são diferentes dependendo do país e cultura, e isso nunca é recordado. O corpo da Brasileiro nunca será igual ao da Americana e muito menos da Chinesa, tomando a mulher como público-alvo, deste anúncios.

A localização escolhida é variável, mas geralmente são: 
As características faciais; pele: rugas, cicatrizes, acne, manchas, palidez, varizes vasculares,  excesso de pelos faciais, perda excessiva de cabelo, pelo demasiado fino..Na verdade a mania por pelos (Tricolomanía) é comum tanto em homens como em mulheres. Alguns sintomas fazem referência a mal estar peniano ou testicular. Em ocasiões aparece o antecedente de negação pela parceira sendo que na mulher surgem problemas com a vulva que é a parte externa dos órgãos genitais femininos, que inclui grandes e pequenos lábios, vestíbulo vaginal, etc.Mas como vocês já devem imaginar, a maior indicência de atenção distorcida fica realmente localizada no abdomem, seios e nádegas.

Propositalmente não entrei na questão dos disturbios psicoalimentares ( Bulimia, anorexia, etc) .


Para finalizarmos, de importância crucial, falarmos sobre a VIGOREXIA, que em pessoas dedicadas ao culturismo , assíduos freqüentadores de academias de ginástica e de halteres, amiúde se consideram fracos, apesar de ter uma musculatura mais desenvolvida que os demais indivíduos. Se tornam além de fanáticos pela prática de desenvolvimento muscular, praticantes de rígidos regimes alimentares, com suplementos dietéticos. Inclusive alguns tomam anabolizantes para ganhar massa muscular. O uso destes começam freqüentemente nas escolas. O uso de anabolizantes é problemático e causam além problemas psiquiátricos a curto prazo, com condutas agressivas e maníacas, e a depressão, obviamente degeneração de alguns órgãos, principalmente pela sobrecarga do fígado, rins e obvio o coração, não sendo comuns AVC (Acidentes Vasculares Cerebrais) pelo aumento da pressão sanguinea arterial. Alguns desistem de suas carreiras de advogado, médico, empresário etc pela necessidade de ter mais tempo para freqüentar a academia. É incrivel, mas verdadeiro.

Espero ter vencido (ao menos em parte) a "chatice" de ler algo tão formal, mas se conseguirmos atentar ou esclarecer apenas uma pessoa, já terá valido muito a pena.

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Um grande Domingo a todos e uma belíssima semana!!