Impulso suicida.

Diante de uma grata, porém inusitada conversa, resolvi rever algumas anotações, colagens e postar algo sobre esse impulso.
O Psicanalista, psiquiatra, psicólogo etc defronta-se freqüentemente com um dilema: como dialogar com pacientes suicidas?

A idéia de que "quem fala não faz" nem sempre é verdadeira no que diz respeito às tentativas de suicídio. Outra mitologia acerca do suicídio diz respeito a que não se deva valorizar as tentativas que pareçam ter sido feitas apenas para atrair a atenção do universo sócio-familiar; por serem potencialmente não-fatais não devem ser desprezadas e devem ser interpretadas como um pedido de ajuda que necessita de atenção e entendimento. A ótica importante a ser observada é que o individuo tenta tantas vezes que um dia pode ser bem sucedido, logo não é nada coerente e extremamente perigoso desprezar estes tipos de aviso.
É importante ressaltar que um substancial número de pacientes que tentaram um ato suicida procuraram um ´profissional de saúde alguns dias antes.

DEFINIÇÃO DE SUICÍDIO

Freud, dentro de uma abordagem psicanalítica, estabelecia que a auto-aversão vista na depressão originava-se da raiva em direção a um objeto de amor; raiva que a pessoa desviava para si mesma. O suicídio seria a expressão máxima desse fenômeno e não acreditava que houvesse suicídio sem o desejo reprimido de matar alguém. Uma abordagem bastante interessante pode ser encontrada em seu trabalho publicado em 1917 chamado Luto e Melancolia.





PACIENTE COM RISCO DE SUICÍDIO

Existe uma ampla gama de situações envolvendo o risco de suicídio , as quais variam desde ideações leves até o paciente que chega em coma por ingestão de medicamentos. A avaliação do risco de suicídio continua sendo um desafio e, geralmente mais importante do que buscar a causa do suicídio de imediato é sim o amparo ao paciente, pois mesmo que a premissa de suícidio seja inverídica, o apelo não deixa de ser patológico.


FATORES DE RISCO

Embora a conduta suicida tenha um espectro amplo, parece haver uma diferença no perfil dos pacientes que tentam suicídio e aqueles que realmente concretizam o ato, sendo os mais propensos:

  • pacientes com personalidade impulsiva
  • história de migração
  • ausência de convicção religiosa (católicos suicidam-se menos pelo perfil punitivo da sua ideologia, bem como a crença num destino controlado por um Deus onipotente e responsável pelos sucessos e frustrações da sua vida).
  • sentimento persistente de desesperança e pessimismo
  • perda de status sócio-econômico: fracasso profissional ou falência financeira.
  • acidentes que causem incapacidade física (p.ex paraplegia) ou impotência sexual.
  • acidentes que causem desfigurações, principalmente em mulheres.
  • ambivalência
  • fator desencadeante/estressante persistente
  • transtornos de personalidade (histriônico, borderline etc.)
  • transtorno bipolar: pode-se pensar no risco aumentado apenas na fase depressiva, mas o perfil impulsivo da fase maníaca traz cuidados particulares.
  • doenças do SNC como epilepsia, demência, AIDS etc.  

MANEJO DO PACIENTE QUE TENTOU SUICÍDIO

A primeira parte do atendimento de um paciente que tentou suicídio deve ser centrado sobre o manejo das complicações decorrentes tais como cortes, fraturas e intoxicações.
No caso de ingestao de medicamentos o nível de consciência é o primeiro aspecto a ser avaliado. A seguir devemos buscar informações acerca do tipo, quantidade, tempo decorrido e velocidade de consumo da medicação, bem como associações com outras drogas, álcool etc. Caso o paciente esteja em coma um diálogo com acompanhantes ou familiares é de fundamental importância. Recursos para diminuir a absorção devem ser tentados como indução de vômitos ou lavagem gástrica. O uso de substâncias antagonistas pode ser útil como é o caso do flumazenil nos casos de intoxicação por benzodiazepínicos.
Obviamente, devem ser tomadas as medidas cirúrgicas necessárias nos casos de suicídio associado a trauma (suturas, imobilizações gessadas ou, se necessário, até cirurgia reparadora), certamente em hospital ou centro médico legalmente constituido. É de fundamental importância o deslocamento (qualquer que sejam as causas) para entidade médica mais próxima.

A segunda parte do manejo do paciente suicida é a avaliação do risco de uma nova tentativa. O profissional deve levar sempre em consideração os itens discutidos acima no que se refere aos fatores de risco. Porém, muitas vezes, esta tarefa torna-se difícil por diversos fatores como:
  1. a seriedade do que está em questão: a vida ou a morte do paciente.
  2. porque o médico precisa definir não só um diagnóstico, mas também um prognóstico, cujas dificuldades são muito maiores.
  3. o médico, geralmente, vê o paciente na emergência, não o conhece previamente e o risco de suicídio pode ser o motivo da procura do atendimento.
  4. porque a decisão de internação pode significar a sobrevivência do paciente.
Essa avaliação de risco deve ser feita através de uma entrevista detalhada a ser realizada logo após a equipe de emergência ter sanado as complicações médicas pós-tentativa e o paciente apresentar condições de conversar com o médico. Na entrevista o paciente deve ser questionado direta e francamente se ainda tem vontade de acabar com a própria vida, se tudo está tão ruim a ponto de acabar com tudo, se ele tem planos feitos ou se o paciente conseguiria controlar-se. Muitas vezes o desabafo do paciente é o suficiente para tirá-lo de sua situação de angústia e sofrimento pessoal.

A terceira parte, e mais delicada, é a decisão de internar o paciente ou não. A internação inadequada pode trazer apenas prejuízos para o sistema e para o paciente, do mesmo modo que a não internação pode significar uma nova tentativa. Para evitar erros o médico deve seguir rigorosamente alguns critérios:
  • paciente está psicótico, com a presença de delírios, idéia de comando ou alucinações.
  • quando existe algum fator que interfere com o nível de consciência, impossibilitando a avaliação na emergência (p.ex intoxicação).
  • quando não existe modificação na ideação suicida, após intervenção junto ao paciente e a família.
  • pouco ou nenhum suporte familiar.
  • tentativas freqüentes ou em escalada.
Desde que as indicações acima sejam descartadas, pode-se partir para um acordo envolvendo o médico, paciente e familiares, numa espécie de "pacto anti-suicida" , que também deve respeitar alguns princípios:
  • o paciente sente que os impulsos estão sob controle.
  • refere poder comunicar quando sentir uma piora do quadro de ideação suicida.
  • se dispõe a realizar consultas freqüentes.
  • o médico dispõe-se a atendê-lo em qualquer momento numa linha de contato direto.
  • reduzir fatores estressantes ou que desencadearam a tentativa.
  • garantir apoio incondicional dos familiares e amigos.
  • construir um apoio realista no qual o paciente possa reconhecer um motivo legítimo para o suicídio.
  • oferecer alternativas para o suicídio.
  • manter o paciente sob vigia e longe de armas, medicamentos, cordas, mangueiras de chuveiro, janelas ou qualquer outro objeto que possa predispor o paciente a um novo ato.
  • não deixar o paciente tomar decisões importantes. O paciente está desequilibrado e uma decisão mal tomada pode ser motivo de uma nova tentativa de suicídio.
  • evitar comentários que transformem o ato em algo como "fraqueza pessoal", "covardia" e outros.
É importante ressaltar que a não internação representa um tratamento menos traumático para o paciente perante os familiares, a sociedade assim como para ele próprio, aumentando consideravelmente sua esperança em recuperar-se.
Outro aspecto de crucial valor é a recuperação do paciente após um estado de depressão. Pacientes apresentam aumento do risco de auto-aniquilação quando aparentam melhora da sua condição clínica; isto é, quando o retardo psicomotor já começou a responder ao tratamento, mas o núcleo de depressão vital (humor e pensamento) ainda domina o psiquismo do paciente. Portanto, o início da recuperação de um paciente depressivo que apresenta fatores de risco importantes para uma nova tentativa é um período que requer cuidados psicanaliticamente redobrados.

SUMARIZANDO
  1. Quando da chegada do paciente com suspeita de tentativa de suicídio, a prioridade é para os cuidados clínicos, que devem incluir testes para detecção de intoxicação por drogas, além dos cuidados cirúrgicos quando há trauma associado.
  2. Tentar obter o máximo possível de informações com acompanhantes, sobre fatos imediatos e mediatos.
  3. avaliação conclusiva somente após a desintoxicação ou estabilização dos transtornos causados pela tentativa.
  4. pesquisa de transtornos psiquiátricos e fatores estressores deve ser extensiva.
  5. avaliar cuidadosamente fatores de risco.
  6. sempre perguntar diretamente :
    - quer se matar?
    - acha que viver não vale mais a pena?
    - ainda tem algum plano para cometer suicídio?
    - conseguiria controlar os impulsos?
  7. Internar ou fazer "pacto anti-suicida".

Um ótimo final de semana a todos.


BIBLIOGRAFIA:
  1. NOBRE DE MELLO AL - PSIQUIATRIA. 3 Ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 1979.
  2. NUNES P, BUENO JR e NARDI AE - Psiquiatria e Saúde Mental. São Paulo: Editora Atheneu, 1996.
  3. TABORDA JGV, PRADO-LIMA P e BUSNELLO - Rotinas em Psiquiatria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
  4. JASPERS K. Psicopatologia Geral. 2 Ed. Rio de Janeiro: Atheneu. 1979.
  5. KAPLAN HI, SADOCK BJ & GREBB J -Kaplan and Sadock’s synopsis of psychiatry. 7th Ed. Baltimore: Williams & Wilkins, 1995.
  6. LAPLANCHE & PONTALLIS, Martins Fontes, 1924.

Transtorno de Personalidade Narcísica.

Pessoas com transtorno de personalidade narcísica são pacientes que tentam manter uma imagem de perfeição e invencibilidade pessoal para si e tentam desvalorizar e menosprezar os outros que não se enquadram em seu ponto de vista. Teoricamente isso se origina na fase edipiana ou pós-edipiana, com os investimentos objetais voltadas para o próprio indivíduo.
A dura realidade da vida ou mesmo uma doença física pode quebrar este ciclo e um paciente pode perder o sentimento de segurança inerente a um senso de autocoesão.
Esta perda de identidade precipita uma sensação de que “o meu mundo está caindo aos pedaços”, e o paciente sente uma sensação de fragmentação pessoal.
A tentativa de manter um sentimento de superioridade e a estratégia defensiva de não mostrar sua fragilidade pode fazer com que demore na busca de atendimento, comprometendo-se e piorando seu quadro clínico.





Muitas vezes, apenas os médicos com alto status em uma prestigiosa instituição é considerada digno de respeito para que o paciente o procure e nas maioria dos casos, por não receber a atenção desejada de tão "prestigiado" profissional, o acaba desmotivando para continuar tal tratamento.
Membros da equipe subalternos (secretárias, assessores etc) podem ser alvos de "ataques"  que o paciente pretende estabelecer dominância hierárquica, a fim de contrariar a vergonha e temor desencadeado pela sua doença.
Os profissionais de saúde envolvidos com esse paciente, devem transmitir um sentimento de respeito e de reconhecimento do problema e de sua auto importância, porém devem ao mesmo tempo, evitar o reforço patológico de grandiosidade que pode contribuir para a negação da doença, ou da fraqueza que o assusta.
Uma primeira abordagem do apoio seguido pelo passo-a-passo de confronto do paciente com sua vulnerabilidade, pode permitir que o paciente aprenda a lidar com as implicações da doença e com seus sentimentos de força subjetiva. Para cada caso é estudado uma ferramenta psicanalítica específica, de acordo com a vida emocional de cada individuo.
A psicanálise focal e/ou psicoterapia cognitiva, crê que o aumento da autoconfiança do paciente, pode reduzir a necessidade de atacar a equipe , pois o paciente tende a apresentar grandes expectativas sem assumir responsabilidades recíprocas.
Muitos dos princípios do tratamento e abordagens discutidos para aplicar a esse transtorno, podem favorecer o distúrbio de personalidade limítrofe (Borderline).
Se aplica as mesmas ressalvas ao tratamento farmacológico dos sintomas depressivos.
Ao apresentar os sintomas e tratamento em pacientes com transtornos de personalidade narcisista e outras em condições semelhantes, deve ser dada atenção às conseqüências da remoção de sintomas em um paciente cujo caráter é primitivo subjacente ou frágil.
Alguns clínicos sugerem que a grandiosidade e a tendência para idealizar e desvalorizar deve ser interpretada como manobras defensivas quando aspectos de relações iniciais da vida emocional conflituosas, que interferem em sua vida adulta.
O terapeuta deve estar consciente da importância do narcisismo para a continuidade do psiquismo do paciente, e deve preocupar-se com abster-se de enfrentar a necessidade de auto-engrandecimento que ajudam o paciente a estabelecer intacta sua auto-imagem, porém a quebra de certas cadeias sintomáticas, devem trazer certo grau de conforto psicólogico ao paciente.
A boa compreensão dos princípios da personalidade narcisista, tanto para a interpretação para o paciente, como para uso no combate contratransferencial é de suma importância, bem como o uso do método catártico pode ser responsavelmente utilizado.
As metas terapeuticas precisam ser tratadas como em todas as outras psicopatologias, ou seja, com importância e comprometimento, uma vez que a fonte desses pacientes estão nas dificuldades que residem nas profundezas patológicas de seu desenvolvimento, e chegar até a causa destas patologias (núcleo fóbico) é uma jornada grandiosa.

Complexo de Electra: Ela pode Estar e não Ser.

Hoje abordarei um assunto que vem sendo alvo de inumeros estudos, pesquisas, devaneios e que ainda lhe conferem o título de enigma. Desde FREUD até a atualidade sabemos que existem inumeros e incontáveis fatores que levam um individuo (homem ou muher) a escolha da homosexualidade como gratificação de seus prazeres.
Nas escritas tanto de Freud como de Lacan, podemos compreender a longa estrada a ser percorida. 
Recorrendo as teoriasde Freud  baseadas em análises de casos clínicos neuróticos,  evidenciam a importância das identificações parentais e do complexo de castração, o que nas meninas,  pode ser sentido como um dano sofrido (já por ter nascido sem pênis) que ela tenta  compensar ou reparar.

Para muitos o complexo de Édipo é apenas masculino em função do pênis, o que não é verdade. Para que não haja confusão a leigos usaremos o termo de JUNG que demonina COMPLEXO DE ELECTRA como sinônimo do complexo batizado por Freud ao sexo masculino.
A descoberta do Complexo de Electra demonstra que a orientação do desejo e das escolhas feitas pelo sujeito (dentre elas a escolha de objeto de amor) são marcadas por investimentos e identificações baseadas na vivência em sua fase electrica (edipiana).
Em três estudos, Freud já observa que a pureza da masculinidade ou da feminilidade é equivocada e desenvolve o conceito de bissexualidade originária por um desejo inconsciente. 

“todo indivíduo revela uma mistura dos traços de caráter pertencentes a seu próprio sexo e ao sexo oposto e mostra uma combinação de atividade e passividade”. 
Freud - 1905 

Deste modo, a sexualidade humana, antes atrelada ao biológico ou social, passa a ser vista pela ótica da dinâmica psíquica do inconsciente. Em certo sentido, a sexualidade se pluraliza com a noção de bissexualidade originária.
Na teoria freudiana, não haveria uma receita, uma equação cartesiana ou um único caminho a ser seguido, que indique que o indivíduo escolha a homossexualidade em detrimento da heterossexualidade. 
Freud, no intento de encontrar as origens psíquicas da homossexualidade refere-se a bissexualidade apenas reforçando teoria de que a sexualidade humana é tão incerta, que há possibilidades de “escolha” como objeto de desejo, tanto um homem quanto uma mulher. 
 A escolha sexual é da ordem do inconsciente, não é  fundamentada em julgamentos sociais, pois existem resquicios das escolhas do objeto nas mais tenras idades.
Freud considera que a diferenciação só ocorre tardiamente, ou seja, após a fase fálica, o que só é possível devido ao desenvolvimento da pulsão sexual (tendência).
Para a menina se torna um tanto mais complicado, pois a mesma já estar envolvida na constatação de que nasceu castrada (não tem pênis), precisa lidar com a troca de objeto de desejo (mãe pelo pai), de zona erógena (o clitóris pela vagina) e, em suma, de uma modo de satisfação ativo (o desejo de ser o falo) por um modo passivo: receber o falo.






O que garante a menina o acesso a feminilidade é (para Freud) o resultado do recalque da atividade sexual endereçada a mãe, primeiro objeto de seu amor.
Podemos ver, então, que tornar-se homem ou mulher envolve processos extremamente complexos, principalmente para a mulher, que além de estar condicionada ao recalque parcial da sexualidade, ainda se engaja em uma espera (sempre frustrada) de receber o falo. Na sociedade contemporânea, não chega a ser mais incomum o fato de muitas mulheres, trocarem parceiros do sexo masculino por parceiras sexuais do sexo feminino, justamente em função desta espera frustrada em receber o falo ou ao menos o falo da maneira a satisfazer completamente seus desejos.
Portanto é  essa decepção, da ordem do desejo e da demanda, que, segundo Lacan, introduz a falta e a relação com o falo. 
A partir desse ponto, seu destino enquanto mulher pode tomar três vias: abandonar  todos seus impulsos sexuais tornando-se frígida; identificar-se com a mãe, conduzindo ao “complexo de masculinidade” e, em alguns casos, provocando a homossexualidade ou, finalmente, escolher o pai como objeto de amor, ascendendo á feminilidade.
O que é bem evidente neste pequeno ensaio é que BISSEXUALIDADE feminina não traduz HOMOSEXUALIDADE feminina. Como podemos perceber, todos os individuos nascem com a bissexualidade originária ou seja, nossas escolhas de objetos sexuais ao longo da fase fálica é que influenciam em nossas escolhas. Em tese, concordo com raciocinio Lacaneano que mostra que em quase sua totalidade, e pelos mais diferentes motivos e razões, a mulher consegue não SER homossexual e sim apenas ESTAR homossexual,  não desenvolvendo sintomas severos de culpas posteriores em relação ao que sentiria um homem. Diante de tanta complexidade, sabemos que ainda existe um longo periodo de estudos pela frente, porém é importante lembramos de que: "O que não nos impede de obtermos prazer e é aceito pela sociedade como um todo, É NORMAL..
Bom feriado a todos.

Os mistérios da Dislexia.


Cientistas de vários centros de pesquisa dos EUA identificaram um novo gene relacionado à dislexia, distúrbio que interfere no aprendizado das palavras e da leitura e que afeta de 10% a 15% da população mundial.

Batizado de DYX2, o gene está localizado no cromossomo 6, área que há cerca de 20 anos tem despertado o interesse dos pesquisadores que tentam descobrir como funciona a hereditariedade do problema.

A pesquisa foi publicada no periódico científico Pnas (http://www.pnas.org), da Academia Nacional de Ciências dos EUA, e tem como um dos autores o cientista Shelley Smith, que em 1983 mostrou pela primeira vez que um dos principais genes relacionados com o distúrbio estaria localizado num braço do cromossomo 15.

Essa descoberta trouxe mais comprovações para a tese de que a dislexia tinha uma origem genética e que poderia ser passada de geração para geração.

Desta vez, para chegarem ao DYX2, os pesquisadores estudaram 153 famílias de classe média, moradoras do Colorado (EUA).

Dessas, 34 tinham um filho com o problema; 94 tinham dois; 19 delas tinham três. Em 6 famílias, o distúrbio aparecia em 4 filhos. Os estudantes pesquisados tinham de 8 a 18 anos.

Por meio de estudos de DNA e de análises neurológicas, eles observaram que nos integrantes dessas famílias o gene DYX2 tinha seu funcionamento comprometido, o que lhes permitiu concluir que ele aumentaria a suscetibilidade para o desenvolvimento da dislexia.

Além disso, os pesquisadores apontaram para uma relação entre o funcionamento do sistema nervoso central e a questão genética, apontando para uma interação entre a existência desse cromossomo e o modo como cada área do cérebro funciona.

"São autores que estudam o risco genético da dislexia há muitos anos. Agora, eles ressaltam o papel de um novo gene em uma região que já está sendo estudada, que é a do cromossomo 6.

Outros genes desse mesmo cromossomo já foram identificados e apontados como tendo relação com a dislexia", afirma a fonoaudióloga Simone Aparecida Catellini, pesquisadora do Ambulatório de Neurologia Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Ela faz parte de um grupo de pesquisa formado por cientistas da Unesp de Botucatu e da USP de Bauru que pretende descobrir qual o grau de comprometimento provocado por cada um desses genes já identificados na linguagem e na capacidade de leitura e escrita das crianças.

"Trabalhamos com dez famílias. O nosso objetivo não é só achar o gene, porque já existem vários genes relacionados, de mais de um cromossomo, que chamamos de genes candidatos, mas saber a importância deles e em que grau eles afetam as crianças", explica.

De acordo com ela, as pesquisas precisam incluir pelo menos três gerações de uma mesma família, o que no Brasil se torna mais difícil, pois nas famílias de muitas das crianças identificadas com o problema os avós eram analfabetos, o que impossibilita o diagnóstico.

Pesquisas como as do grupo americano, que reuniu, entre outras, as Universidades de Yale, de Nebraska, do Colorado, de Connecticut e do Alabama, podem ajudar cada vez mais quem trabalha com distúrbios de aprendizagem.

Isso porque, tendo comprovada a relação familiar, fica mais fácil identificar uma criança disléxica de outra com dificuldades provocadas por outros fatores.

"Sabendo que uma criança com dificuldades para ler e escrever tem outro irmão, ou pais, ou tios, com o problema, o diagnóstico fica mais fácil", diz a pesquisadora.

Atualmente, sabe-se que quando os pais são disléxicos, há cerca de 50% de chance de os filhos terem o problema. A porcentagem é a mesma para o caso de irmãos. Pesquisas apontam que a hereditariedade atinge de 44% a 75% dos casos.

Pesquisas científicas neurobiológicas recentes concluiram que o sintoma mais conclusivo acerca do risco de dislexia em uma criança, pequena ou mais velha, é o atraso na aquisição da fala e sua deficiente percepção fonética. Quando este sintoma está associado a outros casos familiares de dificuldades de aprendizado - dislexia é, comprovadamente, genética, afirmam especialistas que essa criança pode vir a ser avaliada já a partir de cinco anos e meio, idade ideal para o início de um programa remediativo, que pode trazer as respostas mais favoráveis para superar ou minimizar essa dificuldade.

A dificuldade de discriminação fonológica leva a criança a pronunciar as palavras de maneira errada. Essa falta de consciência fonética, decorrente da percepção imprecisa dos sons básicos que compõem as palavras, acontece, já, a partir do som da letra e da sílaba. Essas crianças podem expressar um alto nível de inteligência, "entendendo tudo o que ouvem", como costumam observar suas mães, porque têm uma excelente memória auditiva. Portanto, sua dificuldade fonológica não se refere à identificação do significado de discriminação sonora da palavra inteira, mas da percepção das partes sonoras diferenciais de que a palavra é composta. Esta a razão porque o disléxico apresenta dificuldades significativas em leitura, que leva a tornar-se, até, extremamente difícil sua soletração de sílabas e palavras. Por isto, sua tendência é ler a palavra inteira, encontrando dificuldades de soletração sempre que se defronta com uma palavra nova.

Porque, freqüentemente, essas crianças apresentam mais dificuldades na conquista de
domínio do equilíbrio de seu corpo com relação à gravidade, é comum que pais possam submete-las a exercícios nos chamados "andadores" ou "voadores". Prática que, advertem os especialistas, além de trazer graves riscos de acidentes, é absolutamente inadequada para a aquisição de equilíbrio e desenvolvimento de sua capacidade de andar, como interfere, negativamente, na cooperação harmônica entre áreas motoras dos hemisférios esquerdo-direito do cérebro. Por isto, crianças que exercitam a marcha em "andador", só adquirem o domínio de andar sozinhas, sem apoio, mais tardiamente do que as outras crianças.
Além disso, o uso do andador como exercício para conquista da marcha ou visando uma maior desenvoltura no andar dessa criança, também contribui, de maneira comprovadamente negativa, em seu desenvolvimento psicomotor potencial-global, em seu processo natural e harmônico de maturação e colaboração de lateralidade hemisférica-cerebral.

Na Primeira Infância:

1 - atraso no desenvolvimento motor desde a fase do engatinhar, sentar e andar;
2 - atraso ou deficiência na aquisição da fala, desde o balbucio á pronúncia de palavras;
3 - parece difícil para essa criança entender o que está ouvindo;
4 - distúrbios do sono;
5 - enurese noturna;
6 - suscetibilidade à alergias e à infecções;
7 - tendência à hiper ou a hipo-atividade motora;
8 - chora muito e parece inquieta ou agitada com muita freqüência;
9 - dificuldades para aprender a andar de triciclo;
10 - dificuldades de adaptação nos primeiros anos escolares.

A Partir dos Sete Anos de Idade:

1 - pode ser extremamente lento ao fazer seus deveres:
2 - ao contrário, seus deveres podem ser feitos rapidamente e com muitos erros;
3 - copia com letra bonita, mas tem pobre compreensão do texto ou não lê o que escreve;
4 - a fluência em leitura é inadequada para a idade;
5 - inventa, acrescenta ou omite palavras ao ler e ao escrever;
6 - só faz leitura silenciosa;
7 - ao contrário, só entende o que lê, quando lê em voz alta para poder ouvir o som da palavra;
8 - sua letra pode ser mal grafada e, até, ininteligível; pode borrar ou ligar as palavras entre si;
9 - pode omitir, acrescentar, trocar ou inverter a ordem e direção de letras e sílabas;
10 - esquece aquilo que aprendera muito bem, em poucas horas, dias ou semanas;
11 - é mais fácil, ou só é capaz de bem transmitir o que sabe através de exames orais;
12 - ao contrário, pode ser mais fácil escrever o que sabe do que falar aquilo que sabe;
13 - tem grande imaginação e criatividade;
14 - desliga-se facilmente, entrando "no mundo da lua";
15 - tem dor de barriga na hora de ir para a escola e pode ter febre alta em dias de prova;
16 - porque se liga em tudo, não consegue concentrar a atenção em um só estímulo;
17 - baixa auto-imagem e auto-estima; não gosta de ir para a escola;
18 - esquiva-se de ler, especialmente em voz alta;
19 - perde-se facilmente no espaço e no tempo; sempre perde e esquece seus pertences;
20 - tem mudanças bruscas de humor;
21 - é impulsivo e interrompe os demais para falar;
22 - não consegue falar se outra pessoa estiver falando ao mesmo tempo em que ele fala;
23 - é muito tímido e desligado; sob pressão, pode falar o oposto do que desejaria;
24 - tem dificuldades visuais, embora um exame não revele problemas com seus olhos;
25 - embora alguns sejam atletas, outros mal conseguem chutar, jogar ou apanhar uma bola;
26 - confunde direita-esquerda, em cima-em baixo; na frente-atrás;
27 - é comum apresentar lateralidade cruzada; muitos são canhestros e outros ambidestros;
28 - dificuldade para ler as horas, para seqüências como dia, mês e estação do ano;
29 - dificuldade em aritmética básica e/ou em matemática mais avançada;
30 - depende do uso dos dedos para contar, de truques e objetos para calcular;
31 - sabe contar, mas tem dificuldades em contar objetos e lidar com dinheiro;
32 - é capaz de cálculos aritméticos, mas não resolve problemas matemáticos ou algébricos;
33 - embora resolva cálculo algébrico mentalmente, não elabora cálculo aritmético;
34 - tem excelente memória de longo prazo, lembrando experiências, filmes, lugares e faces;
35 - boa memória longa, mas pobre memória imediata, curta e de médio prazo;
36 - pode ter pobre memória visual, mas excelente memória e acuidade auditivas;
37 - pensa através de imagem e sentimento, não com o som de palavras;
38 - é extremamente desordenado, seus cadernos e livros são borrados e amassados;
39 - não tem atraso e dificuldades suficientes para que seja percebido e ajudado na escola;
40 - pode estar sempre brincando, tentando ser aceito nem que seja como "palhaço" ;
41 - frustra-se facilmente com a escola, com a leitura, com a matemática, com a escrita;
42 - tem pré-disposição à alergias e à doenças infecciosas;
43 - tolerância muito alta ou muito baixa à dor;
44 - forte senso de justiça;
45 - muito sensível e emocional, busca sempre a perfeição que lhe é difícil atingir;
46 - dificuldades para andar de bicicleta, para abotoar, para amarrar o cordão dos sapatos;
47 - manter o equilíbrio e exercícios físicos são extremamente difíceis para muitos disléxicos;
48 - com muito barulho, o disléxico se sente confuso, desliga e age como se estivesse distraído;
49 - sua escrita pode ser extremamente lenta, laboriosa, ilegível, sem domínio do espaço na página;
50 - cerca de 80% dos disléxicos têm dificuldades em soletração e em leitura.




Fonte:  “O Estado de SP”:

O Papel da Psicanalise.

O mundo nunca é o mesmo para nós depois de estudamos química, fisica, biologia, astronomia, geologia etc.. As ondas da praia, o gelo, a terra, as rochas sobre nossos pés, assim como a Via Láctea sobre nossas cabeças, tudo é novo e diferente assim como era antes. Do mesmo modo a Psicanálise permite-nos compreender mais sobre as pessoas que nos rodeiam do que o podíamos. Dá-nos uma nova dimensão em nossa visão do mundo de seres humanos como nós.
Por suas descobertas, a psicanálise permite-nos ter um quadro mais apurado, mas completo e mais acabado da vida mental e comportamental do homem - do homem enquanto pessoa. Da física, sabemos que um objeto físico é o que parece ser aos nossos sentidos desarmados. Do mesmo modo. sabemos, pela psicanálise, que cada pensamento, cada ação, é determinado de modo bem mais complexo de que se podia imaginar antes que Freud delineasse o método psicanalítico de investigação emocional. 
Sabemos que tudo que fazemos ou pensamos, está moldado , em partes, pelas forças do ID (inconsciente), isto é, pelo legado dos desejos instintivos da infância, em parte pelas defesas contra esses desejos (Ego), em parte pelas exigências morais (o superego), em partes pelas circunstâncias externas, correntes, assim como pelas oportunidades de gratificação que nos oferecem.



Na psicanálise, pode-se ver como é grande o papel exercido na motivação humana pelos impulsos e pelos conflitos que se originam. KRIS (1947) escreveu que a psicanálise é o comportamento humano visto como conflito - um epigrama totalmente psicanalitico, que exprime uma profunda compreensão interna (insight) da natureza humana. O homem é um criatura cujos apetites animais, molados pelas experiências na infância, constituem as principais motivações que o impelem a agir por toda a vida.
Os impulsos, as funções do EGO que atuam como seus executantes, ou como defesas contra ansiedades, culpas, conflitos, e o grande papel exercido pelos processos inconscientes da vida mental, são todos partes da perspectiva psicanalitica do homem. 
É sem dúvida, a perspectiva mas compreensivel que se tem até o momento a respeito do tratamento clinico das patologias mentais e obviamente da cura destas patologias.

Psicose Paranóide.

Hoje realmente é um dia triste. 
As 8:30 da manhã do dia de hoje um doente mental entrou em uma escola no RJ e atirou em 28 pessoas e em si mesmo, levando a óbito ,até o momento, 11 delas. Diante das repercussões e dos fatos, vejo um quadro clínico severo desse individuo. 
A meu modesto sentir, trata-se de um caso de Psicose Paranóide, por todas as circunstâncias envolvidas. Obviamente isto não é um diagnóstico e sim apenas a minha posição a respeito. Diante dessa tragédia, resolvi postar o que realmente significa esta enfermidade para leigos. Percebam:

O termo paranóide, que designa este tipo de personalidade deriva de paranóia, por sua vez resultante da expressão grega “para nous”.

A descrição clássica das personalidades paranóides comporta quatro elementos principais: a hipertrofia do eu é o traço principal que se exprime pelo orgulho, a certeza de ter razão, o desprezo, desqualificação ou exploração dos outros, rigidez e intolerância que roçam o fanatismo.

A desconfiança domina as relações com os outros e vai desde o sentimento de ser incompreendido, não estimado ou isolado, à suspeita activa e à interpretação das atitudes do outro sentidas como hostilidade sistemática.

Os erros de julgamento que não põem em causa a inteligência, mas que se compreendem a partir da submissão do pensamento lógico às posições afectivas, alimentam atitudes megalómanas, de perseguição, de ciúme, erotomaníacas, etc.

Por fim, a inadaptabilidade é a resultante social destas atitudes psicológicas. As dificuldades relacionais nos domínios familiar, profissional e pessoal levam a um isolamento social e a uma retirada do investimento no próprio, o que acentua ainda mais os outros grupos.

Estas pessoas são geralmente litigantes, com tendência para exagerar as dificuldades, hipervigilantes, tendendo a evitar a culpa mesmo quando é justificada.

Revelam extrema dificuldade em aceitar críticas dirigidas a si próprios, evitam a intimidade, ostentando uma necessidade excessiva em serem auto suficientes.



CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO DE PERTURBAÇÃO DA PERSONALIDADE PARANÓIDE

A. Tendência persistente e injustificada, começando no início da idade adulta e presente em vários contextos, para interpretar as acções dos indivíduos como aviltantes ou ameaçadoras, como indicado por pelo menos quatro das seguintes manifestações:

1- Expectativas, sem fundamento, de ser explorado ou ofendido pelos outros;

2- Dúvida, sem fundamento, da lealdade e fidelidade dos amigos e conhecidos;

3- Leitura de significados ameaçadores ou aviltantes em acontecimentos inocentes, por exemplo, suspeitar que o vizinho deita fora o lixo para o irritar;

4- Suporta com má vontade e nunca se esquece de insultos ou lapsos alheios;

5- Tem relutância em confiar nos outros por um medo injustificado de que a informação seja usada contra ele;

6- Descamba fácil e rapidamente para reacções de raiva ou contra-ataque;

7- Dúvida, sem fundamento, da fidelidade do cônjuge ou do parceiro sexual.

8- Ocorre não exclusivamente durante a evolução de Esquizofrenia ou de outra Perturbação Delirante."