"Coitadismo"


 


A autopiedade é uma das piores coisas que podemos sentir. Ela nos enfraquece tornando-nos vítimas de um aprisionamento mental desesperador. Quando sentimos dó de nós mesmos acabamos por reclamar todo o tempo e nada fazemos para mudar nossa situação. Infelizmente é grande o numero de pessoas que se utilizam da autopiedade achando que com ela resolvera alguma coisa.

A auto-piedade é uma das sensações mais silenciosas da nossa vida.
Na maioria das vezes é imperceptível, pois o auto-piedoso não pode perceber-se enredado por sí mesmo, e pelas artimanhas que envolvem este sentimento.
 Você já "chorou na frente do espelho", ao ver a sua própria imagem, sentindo pena de si mesmo?...muitos fazem isto, constantemente...e não sabem porque.

 É  um vicio instalado na alma.  Alimentamos o sentimento auto-piedoso, quando sustentamos um sentimento de inferioridade, causado pela insegurança.
É certo que como meio de defesa pessoal e natural, é comum que exista em nós uma certa dose de auto-piedade, mas isto se torna o nosso maior problema quando ultrapassa esta “ linha da normalidade” que é relativizada pelo impulso instintivo.
E qual é a linha da normalidade?
Se uma pedra for atirada em sua direção, você involuntariamente se protegerá. É o reflexo da auto-defesa. E trazendo isto para o campo das emoções ou dos sentimentos, observamos as mesmas reações instintivas de auto proteção sendo exacerbadas na auto-piedade.
Um exemplo disto: Uma pessoa que tem medo de ser traída, investirá tempo e energia procurando indícios do seu próprio medo como forma de auto-proteção.  É o caminho do reflexo natural. Quase inevitável
Visto que a "pena de si mesmo" é um sentimento intrínseco a natureza humana,  devemos saber que traumas, desafetos, abandonos, dores da alma, corações partidos, humilhações, e muitas outras coisas, costumam fazer parte da implantação da auto-piedade em nós, além da linha da normalidade.
Algumas vezes, um abuso sexual na infância, que sempre foi um grito calado na garganta, pela vergonha e humilhação de contar a família, pelo medo  de ser estigmatizado e culpado  e permanece emudecido pela  possibilidade de olhar nos olhos de cabeça erguida, leva-nos a viver  “alisando as próprias penas”, ou sendo verdugos  de nós mesmos. 
As vezes um abandono por parte de um "amor-alguém" pode alimentar isto pelo resto da vida se tornando auto-piedade amargurada. 

Neste sentido, a auto-piedade  pode ser considerada como  um sentimento natural, quando está dentro dos limites instintivos.  Porém a auto-piedade é um sentimento que cresce,  e quanto mais vai sendo alimentado, deixa de ser apenas instintual, para ser vício que adoece e paraliza.

Olhe para  dentro e observe quantas vezes você se torna a vítima de situações que na verdade não deveriam ser tão importantes?
Um olhar que não foi correspondido por alguma distração da outra pessoa, uma palavra não correspondida no momento esperado, uma atenção dividida com outros, por parte de alguem que você ama, etc. O que isto tem provocado em você?... Vitimização?...pena de sí?....Como você reage a estas coisas? Chora?...muda de humor?...Olha pela “janela cinza” da sua existência?....Examine-se a sí mesmo e responda somente para você.
Para superar a autopiedade, em primeiro lugar é necessário olhar para si, como quem se olha de fora, ou como quem pode se auto-analisar.
 É importante saber  que os  nossos  valores não devem ser obtidos pelo critério do julgamento de outros, mas pelo  sabemos   a nosso respeito  pelo  que  conhecemos  de nossas capacidades pessoais .  
 Nós somos de fato o único que poderemos  mudar  o que temos chamado de peso, dores e sofrimentos  em nossa vida e destino .   E o curioso é que quanto mais acreditamos que somos capaz, mais nos tornamos realmente.


             No momento da análise muitas desculpas antes usadas para justificar a autopiedade (não dá, é impossível, não consigo, não me deixam, só se eu fosse mais bonito, só se eu fosse rico, etc.) passam a ser questionadas, colocadas em dúvidas e assim podem ser abandonadas e adotados no lugar pensamentos muitos mais construtivos. Isso significa abandonar a pena de si mesmo e buscar novos significados. É deixar um possível passado desalentador e ir atrás de um futuro mais promissor. Enfim, é trocar um funcionamento onde tudo é ruim por outro que pode enriquecer. A psicanálise é de grande auxílio nesse processo. Ela ajuda a pessoa a investigar e a entender o porquê sua vida não vem sendo vivida com qualidade e a fortalecer a procura por uma vida mais digna.
            Quem estiver preso a autopiedade e estiver incomodado com isso procure ajuda. Não desperdice tempo, pois este passa muito rápido e jamais é recuperado. Use o incomodo para sair dessa posição tão desfavorável para buscar outra que lhe seja muito mais conveniente e benéfica. Nem tudo na vida é sorte, muito é fruto do trabalho que temos em melhorá-la ou piorá-la. Satre costumava dizer que: 
"não importa tanto o que nos acontece, mas o que vamos fazer com o que nos acontece. Tudo depende do que vamos criar para nós mesmos".

Afinal, o que é Perversão?


Este texto se propõe a uma investigação estrutural do conceito de Perversão para Freud. Considerando a polissemia que a palavra comporta, reportando a componentes morais, históricos, médicos e à trajetória de Freud na busca de uma definição do sintoma perverso, entendemos que não é irrelevante a tentativa de uma delimitação epistemológica do campo da perversão, que vá além de uma descrição fenomenológica de casos para um estudo teórico da construção deste conceito.



     
Perversão: A origem do interesse científico e a gênese do conceito

Possível passo inicial para essa investigação seria uma breve recapitulação do processo de apropriação científica do termo “Perversão”. Segundo Castro (2004), a busca do conhecimento científico sobre a sexualidade veio responder a uma demanda positivista e jurídica sobre as alienações mentais e as práticas socialmente bizarras no século XIX. Sendo assim, pode-se dizer que a medicina legal, em sua origem, propõe uma visão de juízo moral sobre os comportamentos sexuais, tendo como parâmetro regras fisiológicas, com um forte conteúdo de função social normativa. Segundo Fleig (2008), “(...) o perverso se caracterizaria como aquele cujo comportamento se afastaria do que estaria prescrito pela natureza. No campo sexual, segundo a doutrina da Igreja, a natureza indica sua estrita finalidade: a reprodução”(Id.,2008,p.15).
Dessa forma, qualquer comportamento que desviasse dos objetivos de perpetuação da espécie seriam considerados patológicos. A partir desse momento então a ciência, incorporada pela Medicina e apoiada pelo poder judiciário, passa a definir a moral da época, postulando quais práticas eróticas são naturais e quais são prejudiciais e patológicas (Pereira, 2009). A idéia de “defeito moral” produz por fim a figura do sujeito perverso, retratada a partir principalmente de uma convergência entre crueldade e desvio da genitalidade. Pode-se dizer que essa figura, entregue pela medicina ao campo jurídico, veio responder a uma demanda social de culpabilização (Frota Neto e Rudge, 2009). O perverso incorpora o papel social de bode expiatório, ao torno do qual se produz uma coesão entre os outros sujeitos, calcada na afirmação das diferenças entre ele – o perverso - e todos os outros.
Foucault (1976) ressalta que esse período inicial da teorização sobre as perversões, e pode-se dizer que mais precisamente a obra de Krafft-Ebing, teve sua importância por situar as práticas sexuais pela primeira vez como objeto do rigoroso discurso científico. Trata-se de um período significativo, mas que ainda é marcado por uma perspectiva que traz a sexualidade como uma instância de “caráter patológico em potencial” e não como parte constitutiva do sujeito, já que o discurso estaria focado apenas nos comportamentos desviantes das normas vigentes. Aí já estão demarcados alguns pontos de divergência entre o conhecimento médico sobre o assunto e a posterior construção psicanalítica.
 
A origem da construção do saber psicanalítico sobre a perversão: uma primeira visão

Seguido de uma rápida gênese científica do termo, buscaremos agora uma gênese do conceito psicanalítico de perversão. Segundo Castro (2004), “num primeiro momento de construção teórica freudiana, a expressão perversão sexual designava a qualidade aberrante da própria sexualidade”, o que, em algum nível, encontrava-se em consonância com a visão médica vigente. Vamos observar como a escuta psicanalítica do sintoma perverso foi aos poucos modificando esse entendimento até que Freud chegasse à noção de perversão como condição básica da sexualidade.
Podemos entender em Freud duas concepções distintas sobre o termo perversão: a primeira está ligada à estrutura básica da sexualidade infantil e a segunda irá se reportar ao momento da Castração e do Complexo de edipo, fortes componentes culturais na constituição do sujeito psíquico.
Partindo da primeira concepção, expressa nos três ensaios sobre a sexualidade (1905), podemos caracterizar a neurose como o negativo da perversão. A idéia principal desse primeiro momento do desenvolvimento da teoria é que a Perversão estaria configurada a partir de um predomínio das pulsões parciais (pré-genitais) sobre a genitalidade. Dessa forma, o sujeito que desviava do comportamento sexual da norma (genital e direcionado aos fins de reprodução), produzindo um investimento libidinal em um objeto de desejo perverso, não teria feito a entrada no Complexo de Édipo, o que por fim permite dizer que o Perverso não experimentaria o medo da castração.
Também na obra Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), Freud traz a existência da atividade sexual infantil, sendo ela modelo para a sexualidade adulta, bem como a condição da criança de “perversa polimorfa”, que aos poucos seria moldada de acordo com padrões e normas ditadas pela cultura. Essa noção da cultura sobrepondo-se à perversão remete à origem do termo como sendo uma fuga da norma social.
A noção de pulsão é essencial para o entendimento da sexualidade em Freud. Ela pode ser descrita como uma descarga de energia que flui continuamente impulsionando o sujeito na busca de sua satisfação. O objeto, segundo Freud (1996[1915]), “É o que há de mais variável na pulsão e, originalmente, não está ligado a ela, só lhe sendo destinado por ser peculiarmente adequado a tornar possível a satisfação”. Por isso não existe um objeto único ao qual o sujeito deverá ligar-se para satisfazer suas fantasias, havendo, portanto, uma normalidade subjacente a diversas práticas sexuais que poderiam ser consideradas “depravadas”.

 

O Fetichismo: A posterior elaboração sobre o processo da Desmentida

Com o texto do Fetichismo, em 1927, Freud apresenta uma leitura diferente do que designa a perversão e neste momento há a ruptura ainda mais brusca com a visão médico-jurídica, pois ela vai além da idéia de uma fixação sexual infantil que não teria sido recalcada. O texto talvez seja ponto crucial para o entendimento da visão freudiana sobre o assunto, pois traz o conceito que designa a forma como o sujeito perverso lida com a castração: a Verleugnung ou a Desmentida, em tradução do alemão para o português.
A Desmentida, ou Recusa, refere-se ao momento da descoberta da criança sobre a diferença dos sexos e a constatação da falta do membro masculino nas meninas e ao mesmo tempo da inexistência de um falo real, que no seu imaginário teria um dia existido na mãe como objeto de plena satisfação e que lhe fora tão prezado, devido à própria posição fálica assumida pela mãe.  
Ao buscar um substituto para esse pênis que não existe, o sujeito então nega a sua inexistência, nega a própria falta. Produz-se aí a posição que Lacan denomina como a clivagem do eu, pois o sujeito se constitui a partir de duas verdades que são conflitantes mas que não anulam-se: “Ela tem o falo/ Ela não tem o falo”. O verbo recusar ou desmentir já assinala a presença de um saber negado pela criança, ou seja, o que existe não é uma ausência de recalque, mas uma tentativa de esconder a falta que muitas vezes a revela.
Freud (1927) traz que a intensidade do investimento libidinal ao objeto fetiche é tantas vezes tão exacerbada justamente por configurar um esforço muito grande (e constante) para manter esta falta tapada, pois a premissa inicial, de que a mãe não tem o falo, está sempre presente e concomitante à essa substituição.
A Desmentida surge também com um caráter de defesa e proteção narcísica do próprio sujeito: se a mãe é castrada, é por que alguém a castrou; é possível, portanto que ele também venha a sofrer a castração. Ao estabelecer um substituto do pênis materno que “tape” a sua falta, o sujeito distancia a possibilidade da sua própria castração. Além disso, defende-se também da angústia de ser engolido, pois a mãe enquanto castrada poderia apropriar-se da criança colocando-a na posição do objeto fálico perdido.
A saída dessa recusa da renúncia à satisfação pulsional se dará de forma a substituir o pênis percebido como faltante na mulher por um fetiche. Por isso, conforme seu artigo de 1927, Freud irá considerar o Fetichismo como um paradigma que explica o funcionamento da perversão. A construção do fetiche se funda no mecanismo de deslocamento e manutenção da contradição marcando o perverso numa posição de mestre do seu saber e do seu gozo.
Estabelecer e nomear a forma através da qual o sujeito defende-se da castração (da falta, a partir do conceito lacaniano) é o que permite situar a Perversão não mais como um agrupamento de comportamentos sexualmente “desajustados”, mas sim como uma estrutura de funcionamento psíquico, da mesma forma que o são a neurose e a psicose. Como consequência, é possível uma leitura mais abrangente dos sintomas, já que estes carregariam consigo uma verdade do paciente a ser desvelada, verdade esta que possui certa lógica interna e que não pode ser denominada apenas como um defeito moral ou desvio de conduta.
Fica demarcada aí a principal diferença entre os dois períodos da construção psicanalítica sobre a perversão: este segundo, mais definitivo, seria baseado na afirmação de que o perverso está sim inserido no complexo de Édipo, inclusive a entrada do sujeito em tal estrutura psíquica se dá por essa via, mesmo que exista uma resolução diferente do complexo em comparação à neurose. Se há entrada no complexo, fica claro que há também o medo da castração, sendo este o fator impulsionador da escolha do objeto de fetiche ou das outras formas de estabelecimento do sintoma através do processo da Desmentida.




O Conceito de Véu e as variadas modalidades perversas

Ao descrever a Verleugnung para o fetiche, o texto possibilita que se construa uma visão mais ou menos universal do mesmo processo em outras formas de sintoma perverso, pois independente da maneira como este se apresenta, a posição subjetiva perversa se fundaria sempre a partir da Desmentida.
Lacan (1956-1957/1995) adicionou ao conceito freudiano de Verleunung o conceito de véu. O véu seria um anteparo, colocado sobre aquilo que falta, e que se configura como um elemento com duas funções: ele é ao mesmo tempo o que esconde a falta, mas também é o que designa, que dá uma “imagem” àquilo que a princípio não existe. Com relação ao véu (ou cortina) Lacan diferencia duas posições em que o sujeito pode situar-se. Ou ele coloca-se mesmo diante do véu, sujeito que vê aquilo que o véu esconde, ao mesmo tempo em que mostra (e vê-se também constantemente capturado por essa imagem), ou pode situar-se atrás do véu. Nessa segunda posição, há uma identificação direta do sujeito com a mãe (e com o que lhe falta), já que coloca-se atrás do véu que cobre o nada com o qual se identifica.
Julien (2004) descreve e situa as modalidades de perversão, as formas do sintoma perverso, de acordo com o critério dessa diferença de posição com relação ao véu. O Fetichismo é a modalidade que talvez seja mais facilmente relacionada ao sujeito que coloca-se diante do véu: o objeto de fetiche, em suas variadas formas (pés, cabelo, calcinha ou até o curioso “brilho do nariz” descrito por Freud no texto sobre o Fetichismo), é colocado sobre a falta fálica e o anteparo da sua imagem é o próprio sujeito, captado por ela.

O Voyeurismo também faz parte do grupo de perversões em que o sujeito situa-se diante do véu. O Voyeur é aquele que abre uma fenda nesse véu, fenda esta que permite que ele tenha acesso direto à intimidade do outro, sendo que a introdução em seu mundo privado é o que permite o contato do perverso com o desejo e o gozo alheio, em uma posição de objeto. O sujeito coloca-se como a própria fenda, buscando uma posição de cumplicidade do Outro, que ele fique interessado e participe deste ritual de demonstração.
Por fim, Julien traz a homossexualidade feminina também como modalidade em que o sujeito situa a cortina à sua frente e entre ele e o falo faltante. Freud descreve o caso de uma jovem homossexual intitulado como “Psicogênese de um caso de homossexualidade feminina” (1920). Essa jovem, durante o complexo de Édipo que se estendeu até a aolescência, desejava engravidar e ter um filho do seu pai. O que acontece, no entanto, é a gravidez de sua mãe no mesmo período, e o nascimento de um irmão mais novo. A menina, decepcionada pelo investimento do pai em outra mulher que não ela, volta-se à figura da mãe (incorporada posteriormente pela mulher mais velha à qual se vincula). Ela passa a ser a criança desta senhora, como substituição à sua falta fálica.
No grupo das perversões em que o sujeito situa-se atrás do véu, identificando-se com a mãe e com seu falo que não há, Julien coloca o transvestismo, o sadismo, o exibicionismo e a homossexualidade masculina.
O transgenerismo diz respeito a uma identificação do sujeito com a mãe que tem o falo, o que o levaria a utilizar roupas femininas. É mais uma maneira de esconder a falta do objeto. Pode-se descrever a imagem do travesti desta forma: é uma “mulher” que possui o pênis no real, sendo que o órgão passa a carregar consigo o valor também de elemento fálico simbólico.
O sujeito sádico também identifica-se com a mãe fálica, pois é ele que possui o instrumento do poder fálico que vem a subjugar o outro. É importante ressaltar aqui que, segundo Deleuze, o Sadismo não deve ser definido por uma relação de complementaridade com o Masoquismo, nem como seu inverso (Julien, 2004). Dessa forma, quebra-se o mito de que existe o sadomasoquismo, já que essas duas instâncias são independentes.
Da mesma forma, o exibicionismo não estaria em relação complementar ao voyeurismo. Para o entendimento do exibicionismo também é trazido o conceito de fenda, já que o sujeito entreabre o campo de visão do outro, oferecendo à sua visão aquilo que ele possui: o falo. Nesse momento ele está identificado com a mãe não-castrada e revela ao outro aquilo o que é suposto que ele não tenha.
A homossexualidade masculina, por fim, se daria quando o sujeito, ao fim do complexo de Édipo, e à altura em que deve substituir a mãe por outro objeto de desejo, produz uma inversão: passa a identificar-se com a mãe e dirigir-se a objetos que tomariam o lugar antes ocupado pelo seu próprio eu, sobre os quais a partir deste momento ele pode investir o mesmo amor que a mãe até então investira nele próprio.




Reflexão: A importância da escuta clínica como princípio para o estabelecimento de um diagnóstico estrutural

A descrição dos tipos de perversão fazem pensar que essas classificações talvez ainda situem-se muito na lógica do que é sexual (e desviante da norma). Como estabelecer um diagnóstico de perversão em sujeitos que em todos os outros âmbitos de sua vida psíquica possuem um funcionamento neurótico e situam-se como tal? Refere-se que o neurótico também pode possuir “traços perversos”, pois às vezes há, na neurose, traços masoquistas ou voyeuristas, por exemplo, e o que diferenciaria um funcionamento neurótico do perverso seria a rigidez com que o perverso coloca sua escolha objetal como condição para o gozo. Mas mesmo assim, se for uma rigidez restrita ao campo sexual, não pode dizer respeito apenas a uma “modalidade de gozo”? Essa modalidade de gozo, mesmo quando rígida, relaciona-se sempre com a forma como o sujeito lida com a lei e com o saber? Esse questionamento parece interessante porque a perversão como tal, dentro da própria teoria psicanalítica, não se situa só a partir da descrição de comportamentos sexuais específicos, mas também por esses outros fatores, que só serão desvendados a partir da escuta clínica e não pela descrição fenomenológica de um tipo de comportamento que o sujeito possa vir a ter.
Esse ponto parece ainda mais evidente com relação à homossexualidade, pois se pode pensar que talvez no caso das outras categorias descritas, a rigidez denote mesmo um amor narcísico, devido a um direcionamento da libido à imagem de objetos (objeto fetiche, porrete, calcinha, cinta-liga) que tem como objetivo maior a proteção da potência fálica do próprio sujeito. No caso da homossexualidade, no entanto, há um investimento libidinal e um interesse no outro, que pode situar e ser situado como sujeito. Além disso, o sujeito homossexual pode admitir a existência de lacunas do seu saber sobre o desejo do outro. Pode-se dizer que muitas vezes a relação homossexual se dá, também, nos mesmos moldes “heterossexuais-neuróticos” (mais facilmente aceitáveis como “sadios”), com a única diferença de se tratar de pessoas do mesmo sexo. Penso que a atenção sobre esse ponto seja interessante para não correr-se o risco de estabelecer uma patologização do desejo e da sexualidade em suas inúmeras formas de expressão.



Referências Bibliográficas:

Fleig, M. (2008). O desejo perverso. Porto Alegre, RS: CMC. Foucault, M. (2007). História da Sexualidade. 18 ed. São Paulo: Graal Freud, S. (1905). Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Em: S., Freud. Obras Psicológicas completas: Edição Standard Brasileira. Vol VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996. _____. Fetichismo (1927). Em: S., Freud. Obras Psicológicas Completas: edição standard brasileira. Volume XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996b. Frota Neto, E. H.; Rudge, A. M. (2009). Da perversão à expiação: uma mudança de perspectiva. Rev. latinoam. psicopatol. fundam., São Paulo, v. 12, n. 1, mar. 2009 Julien, P. (2004). Psicose, perversão, neurose : a leitura de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Companhia de Freud Lacan, J. (1956-1957/1995). O Seminário, Livro 4: a relação de objeto. Rio de Janeiro: J. Zahar Lira Staccioli Castro, S. (2004).Aspectos teóricos e clínicos da perversão. Dissertação de Mestrado não-publicada, Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade Católica, RJ. Pereira, M. E. C. (2009). Krafft-Ebing, a Psychopathia Sexualis e a criação da noção médica de sadismo. Rev. latinoam. psicopatol. fundam., São Paulo, v. 12, n. 2, jun. 2009

Tricotilomania e Saúde Mental


Tricotilomania é um transtorno mental que envolve uma vontade irresistível de puxar o cabelo. Este comportamento ocorre até o ponto de queda de cabelo visível. As áreas mais comuns para puxar o cabelo são o couro cabeludo, cílios, sobrancelhas e cabelos, mas pode envolver qualquer parte do corpo.Tricotilomania é um tipo de transtorno do controle dos impulsos. Transtornos de controle de impulso são transtornos mentais que envolvem a falha repetida de resistir aos impulsos, ou impulso para agir de forma que sejam perigoso ou nocivo.  

Pessoas com esses transtornos saber que eles podem se machucar ou machucar os outros, agindo sobre os impulsos, mas não podem parar-se.Em crianças, a tricotilomania ocorre igualmente em homens e mulheres. Em adultos, é mais comum em mulheres do que em homens.





Quais são os sintomas de tricotilomania?

 Uma pessoa com tricotilomania não pode controlar ou resistir à tentação de puxar o cabelo do corpo dele ou dela. Outros sintomas que podem ocorrer com esta desordem incluem:

    
Um sentimento de tensão antes de puxar o cabelo ou ao tentar resistir à tentação de puxar o cabelo
    
Um sentimento de alívio, satisfação e / ou prazer após agindo sobre o impulso de puxar o cabelo
    
Presença de manchas nuas onde o cabelo foi puxado para fora
    
Presença de outros comportamentos associados, tais como inspeção da raiz do cabelo, enrolando o cabelo, puxando o cabelo entre os dentes, mastigando o cabelo, ou comer cabelo (chamado tricofagia)Muitas pessoas que têm tricotilomania tentar negar que têm um problema e pode tentar esconder sua perda de cabelo, usando chapéus, cachecóis e cílios postiços e sobrancelhas. 


O que causa a tricotilomania?

 A causa exata da tricotilomania ainda não é conhecida, mas parece envolver tanto os fatores biológicos e comportamentais. A investigação descobriu uma ligação potencial entre transtornos de controle de impulso, como a tricotilomania, e certas substâncias químicas do cérebro chamadas neurotransmissores. Neurotransmissores ajudam as células nervosas no cérebro enviar mensagens uns aos outros. Um desequilíbrio desses produtos químicos pode afectar a forma como o cérebro controla os impulsos. Ele também acredita que o estresse pode desencadear o comportamento impulsivo, e que algumas pessoas continuam o comportamento fora de hábito.Em alguns casos, as pessoas com tricotilomania também têm outros transtornos, como depressão ou ansiedade. Isto sugere que pode haver uma ligação entre esses transtornos eo desenvolvimento de tricotilomania. Além disso, o risco de desenvolver a tricotilomania é ligeiramente maior em pessoas que têm parentes com a doença, o que sugere que uma tendência para a doença pode ser herdada. 

Como é Tricotilomania diagnosticada?

 Se os sintomas de tricotilomania estão presentes, o profissional começará a avaliação através da realização de uma história médica completa e exame físico. Não existem testes para diagnosticar a tricotilomania, embora os testes podem ser usados ​​para afastar qualquer causa médica para a perda de cabelo.Se tricotilomania é suspeita, o profissional fisiologista deve encaminhar a pessoa a um Psicanalista, psiquiatra ,psicólogo, profissionais de saúde que são especialmente treinados para diagnosticar e tratar doenças mentais. Estes profissionais usam a primeira anamnese especialmente concebida e ferramentas para encontrar os fatores emocionais envolvidos no gatilho que disparam estes impulsos.