Hipocondria resumida


 

 
Hipocondria é um dos termos mais antigos do vocabulário médico, tendo-se generalizado a sua utilização, na linguagem corrente, por toda a população não médica, perdendo algumas vezes o seu significado preciso. A palavra hipocondria começou por ser utilizada, em finais do século XVIII, para descrever doenças cuja causa não era perfeitamente conhecida, mas que se pensava terem origem em problemas dos órgãos do hipocôndrio -uma zona do abdômen Atualmente, hipocondria descreve uma doença psiquiátrica na qual existe receio ou convicção, sem fundamento, de que se tem ou se irá ter uma determinada doença, habitualmente grave. Os hipocondríacos se preocupam excessivamente com possíveis doenças físicas ou psíquicas, comparando o que sentem com sintomas diagnosticados noutras pessoas, imaginando que estão a desenvolver doenças semelhantes.Procuram constantemente consultas médicas, submetem se a testes, tratamentos numa busca consciente ou inconsciente por um diagnóstico e sentem-se mal caso a doença imaginada exista ou não. O hipocondríaco não é um doente imaginário, mas alguém que apresenta uma verdadeira doença crônica: uma perturbação perceptiva, cognitiva e psicológica que acaba por originar sofrimento real, disfunções psicofisiológicas, deterioração familiar e social, consultas médicas freqüentes e possibilidades de automedicação e de iatrogenia (alteração para pior no tratamento de um paciente), portanto merece grande atenção e apoio. Estima-se que 10 a 20 por cento da população considerada “normal” possua tais preocupações hipocondríacas em algum momento da sua vida, particularmente em períodos de maior fragilidade emocional, sem que isto constitua uma verdadeira doença.


QUAIS AS CAUSAS DA HIPOCONDRIA?
 
Não se conhece a causa da hipocondria, mas são avançadas quatro teorias principais que tentam explicar esta doença:
1 Teoria da amplificação. É a que encontra maior apoio nas investigações já realizadas. Sugere que a hipocondria resulta de um aumento das sensações corporais normais e de um desvio da atenção do indivíduo, que parece estar “desligado” do exterior e estar seletivamente atento aos seus sintomas corporais mínimos, amplificados, que são encarados como sinônimos de doença.O hipocondríaco vive num estado de permanente escuta, desviando a sua atenção do meio ambiente para si próprio e olhando de modo alarmista e interpretando erradamente cada sensação nova no seu corpo.

2 Teoria psicanalítica. Desenvolvida a partir de Freud, advoga que a hipocondria seria resultado de fatores exclusivamente psicológicos, que as queixas físicas seriam manifestações de conflitos psicológicos relacionados com a agressividade, com a culpa, com a baixa auto-estima e sinal da excessiva preocupação consigo mesmo. Por exemplo, a carência afetiva nas crianças pode levá-las a queixarem-se de dores imaginárias para que os adultos olhem para elas e lhes dêem atenção.Da mesma forma nos idosos que em geral recebem menos atenção da sociedade é comum a queixa de dores e mal estar físico que refletem a necessidade de chamar atenção para sua pessoa.

3 Teoria da aprendizagem social. Defende que o indivíduo aprende o papel de doente. As constantes atenções e cuidados que recebe quando a sua saúde está afetada levam-no a habituar-se a esse conforto e a alimentar esse tipo de situações. Por exemplo,uma criança que numa doença infantil normal recebe excesso de cuidados ou que foi submetida á superproteção acerca de sua saúde pode desenvolver no futuro,por causas diversas, uma preocupação exagerada com esta.Outra possibilidade é que a criança tenha vivido num ambiente de sofrimento devido á doença de familiares,aprendendo,assim,a criar para si um ambiente nefasto.

4 A quarta teoria sugere que a hipocondria seria uma forma especial de uma outra doença psiquiátrica, como a doença depressiva, as perturbações da ansiedade ou certas perturbações da personalidade. Tanto que certos doentes passam a viver num total estado de dependência em relação as outros e á condição que a doença lhes impôs, tornando-se infantis, egocêntricos,tem dificuldade em tomar decisões. Outros preferem se isolar internado-se em um hospital ou tentando um auto tratamento.

O TRATAMENTO
 
A evolução desta doença é crônica e desgastante, com episódios que duram meses ou mesmo alguns anos, seguindo-se períodos de calma, podendo surgir novos episódios conforme a seqüência de acontecimentos negativos de natureza psicológica ou social que ocorrerem na vida do doente. O tratamento da hipocondria deve começar por despistar qualquer possível doença médica que explique os sintomas, também se deve procurar uma outra patologia psiquiátrica associada, como doença depressiva ou de ansiedade, que, se existir deverá ser tratada. Inicialmente, os doentes são seguidos pelos clínicos gerais que, logo que possível, os referenciam a uma consulta de psiquiatria, onde poderá ser feita uma psicoterapia – tratamento psicológico – individual ou de grupo.Nesse período e no subseqüente ao tratamento o apoio familiar é importante para a estabilidade psico-social do individuo.