O mês emocional.

As vésperas da comemoração anual mais importante para os católicos, resolvi teorizar a respeito da ansiedade que se instala sobre muitas pessoas neste período. A controvérsia de sentimentos e sensações, acabaram me motivando a (por hipótese) tentar divagar um pouco sobre esse assunto específicamente. Podemos começar entendendo os sentimentos ansiosos que acabam por vir a tona nestas datas.
A ansiedade funciona como um alerta das ameaças contra o ego (nem sempre reais).  
Freud descreveu basicamente três tipos de ansiedade. A ansiedade objetiva surge do medo dos perigos reais que realmente ameaçam contra a integridade física do sujeito, mas neste momento não nos é de valia interpretá-la. Os outros dois tipos, a ansiedade neurótica e a ansiedade moral, derivam da ansiedade objetiva.


A ansiedade neurótica surge diante do reconhecimento dos perigos potenciais inerentes à satisfação dos impulsos do id (inconsciente). Não se trata dos instintos propriamente ditos mas do temor à provável punição em conseqüência de algum comportamento indiscriminado dominado por seu inconsciente. Em outras palavras, a ansiedade neurótica é o medo da punição que o sujeito tem ao expressar os desejos impulsivos. Não tenha medo da palavra neurose, quase todas (senão todas) as pessoas a possuem, apenas tenhamos um pouco de respeito e atenção a desproporcionalidade das coisas. Vamos tomar um exemplo, para  que o leitor possa compreender o nosso ponto de vista.: Ayrton Senna certamente possuia um grau dominado de ansiedade neurótica ou seja ele, pelo medo da  "auto-punição" da derrota, acabava preparando-se muito mais do que qualquer outro competidor ou seja a dose de ansiedade neurótica era consumida pela determinação.
    
A ansiedade moral surge do medo da consciência. Quando realizamos - ou mesmo pensamos em realizar - algum ato contrário aos valores morais da nossa consciência, é bem provável sentirmos culpa ou vergonha. O nível de ansiedade moral resultante, depende do quão desenvolvida é a nossa consciência. As pessoas com menos virtudes apresentam menos ansiedade moral.




A ansiedade provoca tensão, motivando o indivíduo a tomar alguma atitude para reduzi-la. De acordo com a teoria de Freud, o ego desenvolve um sistema de proteção - os chamados mecanismos de defesa - que consistem nas negações inconscientes ou distorções da realidade.  Alguns destes mecanismos de defesa no intuíto de obviamente nos defender, acabam nos trazendo mais ansiedade e o circulo se completa.

Tenhamos em mente que uma comemoração natalina, por exemplo, é investida de uma enorme gama de sentimentos, as quais, muitos deles, são completamente anacrônicos. A ansiedade dezembrina além do retorno as lembranças familiares e infantis de Natal ainda nos reserva o fim do ano no calendário Romano. Por ser dezembro o mês do ano mais emocional, não teremos muitas dúvidas, nem receios, em entender que certas sensações são corretas ao pensamento normal. Na verdade o que a meu ver torna-se mais complicado para muitos colegas e obviamente para eu mesmo, é discernir entre o que é pensamento normal e o que é patológico, pois existe a pulsão do sujeito pelo que é patológico e em muitos casos, se faz uso deste subterfugio (por ser menos passível de erros) para apontar superficialmente um caminho e seguir por ele.
O que chega a ser preocupante neste mês em específico, é que em muitas pessoas não obtém o prazer pela preocupação na evitação do desprazer.
Para alguns sujeitos, as lembranças familiares e infantis nem sempre tem a "cor dourada e vermelha" do Natal. Tenho certeza que todos nós conhecemos alguém que acaba se deprimindo nestas épocas, então é de vital importância que o leitor entenda que os certos excessos são cometidos inconscientemente ou seja o impulso transcende os mecanismos de defesa do Ego em busca de satisfação, coisa que nem sempre sociológicamente e moralmente é aceitável.
Ao meu pensar e certamente a todos os pensadores que sigo, a Psicanálise foi criada como instrumento clínico-terapêutico e ainda neste contexto, lembro que a informação pode hoje ser obtida em muitos lugares, porém a nós, é facultado transformá-la ou não em conhecimento. Espero, com este pequeno ensaio, ter contribuído para essa transformação, bem como ter minimizada as angústias de alguém, tanto quanto escrever, contribui para o desaparecimento das minhas. Feliz Natal a todos.