Autopunição e o sentimento de culpa.


Na verdade hoje resolvi escrever um pouco sobre a culpa e o sentimento de autopunição. Em resumo farei citações e trechos extraidos do Vocabulário Laplance & Pontalis.
Sem as devidas "traduções" ficaria um pouco mais complicado entender o que e porque se origina esse processo psíquico, então resolvi faze-las com estas colagens em um linguajar mais Cognitivo, pois a cognição é basicamente o que funda certos principios da PBI e neles tentarei responder algumas questões, recordando que a Psicanálise Clássica Freudiana é inquestionável e isso não virá ao caso neste momento, ao menos não nesse "Post".
Se rememorarmos, talvez não tenhamos dificuldade em lembrar de certas pessoas a qual conhecemos, que se "Batem", "Machucam", "Esbarram" sem causas aparentes e com frequência desproporcional. O que estamos tratando nao é o pensamento normal e sim a patologia ou seja a desproporcionalidade (é importante recordar disso sempre...)

"A verdade sai do erro" 
Essa frase do psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961) nos faz refletir sobre muitas coisas... Quase sempre chegamos na verdade ao errarmos.  Mas, quantos erros cometemos até chegarmos na verdade? Isso não importa, o que deve importar mesmo é a experiência adquirida e o crescimento obtido. Mas nem sempre temos essa consciência e, na maior parte do tempo, os erros cometidos são transformados em culpas. Alguns passam a vida errando e se culpando; outros sendo vítimas dos erros dos outros, e culpando-os; outros não fazem nada ou em tudo que fazem, são culpados; e outros, ainda para justificarem seus próprios erros....A Culpa é o sentimento de ser indigno, mau, ruim, carrega remorso e censura. A culpa é o resultado de muita raiva guardada que se volta contra nós mesmos. Poderíamos resumir assim:

Raiva + Mágoas reprimidas = Culpa = Autopunição

Esse sentimento que corrói nossa alma e que muitas vezes nos impede de sermos nós mesmos, tem muitas variáveis difíceis de se esgotar. Mas podemos refletir sobre alguns aspectos geradores de culpa.

Tenho um projeto interessante sobre o choque cultural nos descendentes de japoneses, que talvez nem saia da "projeção", mas quando da criação de sua estrutura, consegui basicamente listar algumas características de quem sente culpa desproporcional. Certamente é no campo das hipóteses e teorias que nos fundamos e é sempre bom ter isso em mente fresca, porém podemos listar estas características , como segue:

- Preocupação excessiva com a opinião dos outros;
- Sente-se mal quando recebe algo, pois na verdade não se considera digno de aceitar o que os outros dão;
- Fala repetidamente sobre o que motivou a sentir culpa;
- Raiva reprimida;
- Dificuldade em assumir responsabilidade pelos próprios atos;
- Sente-se rejeitado;
- Responsabiliza o outro pelo próprio sofrimento;
- Sente-se vítima em algumas ou muitas situações;
- Geralmente se pune ficando doente, ou sendo vítima frequente de acidentes, ou seja, autopunições constantes;
- Dificuldade em expressar os reais sentimentos;
- Não consegue falar 'não';
- Necessidade em agradar;
- Sempre fazendo algo pelos outros e raramente para si mesmo;
- Dificuldade em fazer algo só para si;
- Não consegue administrar o tempo, pois está sempre sobrecarregado;
- Baixa autoestima;
- Falta de amor-próprio.
Você pode se identificar com essas características ou ter outras, o importante é reconhecer que a culpa traz muitas consequências em nosso modo de ser e agir. Perceba como se sente, elevando assim seu autoconhecimento para mudar o que te faz sofrer.
A culpa pode ser gerada pela (o)
- Religião;
- Morte;
- Manipulação;
- Crítica;
- Regras;
- Acusações;
- Repressão;
- Rigidez;
- Inflexibilidade;
- Julgamento;
- Controle;
- Dependência;
- Superproteção;
- Raiva;
- Medo;
- Rejeição;
- Abandono;
- Abusos;
- Mentira;
- Prazer;
- Felicidade;
- Dinheiro;
- Sucesso;
- Expectativa;
- Comparações;
- Necessidade de agradar;
- Comodismo/ falta de atitude;
- Sentimentos de impotência;
- Preconceito
- Segredos, principalmente entre os familiares.

Eis acima colagem das causas do sentimento de culpa suprimidos de diversas fontes. Não se acanhe caso já os tenha lido, infelizmente são bastante comuns. A origem de sua culpa podem ser uma ou várias.
O primeiro passo é tentar ter a consciência exata da origem do seu sentimento de culpa. Explore um pouco mais sobre o que gerou em você a culpa se isso for possível a sua consciência. Não comenta excessos, se você não sabe exatamente seu limite, vá com calma. Comece perguntando-se: O que me faz sentir culpa? De não ter sido amado? Ter sido rejeitado, abandonado? Ter acreditado que receberia amor, quando na verdade recebia apenas o que acreditava ser amor? Ter sido vítima de maus tratos e abuso sexual ainda criança? Terem me ocultado a verdade, o que me obrigou a acreditar e conviver com a mentira? De não ter sido amado?

Faça uma lista de todas as culpas que você sente, por maior que possa ser a lista, tente faze-la assim mesmo. Isso o ajudará a compreender melhor seus sentimentos e conflitos gerados pela culpa. Analise as situações em que aconteceram os fatos e se você efetivamente tinha condições de agir diferente de como agiu. Depois continue sua auto análise. Onde, quando e por que começou cada uma delas? Quais são as situações que me sinto culpado pelo que fiz ou deixei de fazer? Quais eram meus valores em relação ao assunto quando agi daquela forma? Se fosse hoje minha atitude seria diferente? Como? Quem fazia ou faz com que eu me culpe? Busque a relação da culpa atual com seu histórico de vida. O objetivo desse exercício não é buscar mais culpados, mas explorar os motivos pelos quais ainda se culpa, se responsabilizando pelos seus atos, e mudar o que pode ainda ser mudado, libertando-se desse sentimento que aprisiona e impede o crescimento.
Consequências da culpa

- Autopunição;
- Medo;
- Sofrimento;
- Remorso;
- Estagnação;
- Doença - segundo alguns estudos, a culpa está presente em praticamente a maioria das pessoas portadoras de câncer;
- Tristeza/depressão;
- Submissão;
- Prisão emocional;
- Solidão;
- Dificuldade em impor limites, dizer não;
- Fuga através do álcool, drogas;
- Compulsão alimentar;
- Conflitos internos e nas relações ;
- Dificuldade em sentir prazer;
- Destruição da autoestima e amor-próprio.

As consequências da culpa são muitas, isso ocorre porque com a culpa está sempre presente a necessidade, ainda que inconsciente, de autopunição. É certo que a culpa pode ser um sinal de alerta sobre falta de limite e respeito pelo outro ou por si mesmo ou a indicação que é preciso mudar algum padrão de comportamento.

O mais indicado sempre é responsabilizar-se e não se culpar, pois a culpa faz com que permaneçamos no papel de vítima e esse traz apenas estagnação e repetição de padrão, não proporciona crescimento. Lembre-se responsabilize-se, não culpe-se. A responsabilidade faz com que acreditemos na capacidade de mudar. E todos nós temos essa capacidade, acredite.

Espero ter contribuido com a sugestão e organização de seus pensamentos. Obrigado pela visita.