Entendendo a alucinação.

Vamos apenas atentar para os conceitos básicos de impulsos Sexuais (Pulsão de vida) e Impulsos destrutivos (Pulsão de morte).

Freud (citado por Lacan, 1954-1955) esquematiza o funcionamento do aparelho psíquico, o qual seria composto por vários sistemas. Esses sistemas estão colocados entre duas extremidades, uma perceptiva e a outra motora, sendo que a direção “normal” desse aparelho vai do pólo perceptivo para o motor. O sistema anímico se encontra mais próximo da extremidade perceptiva. A consciência teria acesso a percepções com todos os tipos de qualidade sensoriais, enquanto as recordações impressas mais profundamente seriam acessadas apenas pelo inconsciente, pois a memória e a consciência não têm uma relação direta. Desta forma, a consciência é capaz de perceber movimentos através das sensações de prazer e desprazer, além das qualidades sensoriais . Na normalidade, as pessoas armazenam coisas perceptivas e palavras que vão nomear essas coisas para que possam vir à consciência, ou seja, simbolizá-las.
Outros conceitos importantes na obra Freudiana são a pulsão de vida (Eros) e, em oposição, a pulsão de morte (Tânatos). A primeira diz respeito às pulsões de conservação da vida e sexuais. Já a pulsão de morte seria responsável por diminuir as tensões geradas pelo organismo (agressividade), tendendo ao menor grau possível. O funcionamento psíquico considerado normal deveria manter um equilíbrio entre essas duas pulsões, de modo que uma não se sobrepusesse à outra. No entanto, na patologia, por conseqüência, das percepções que causam desprazer, ou seja, lembram o sujeito de alguma experiência de dor, esse equilíbrio desaparece. Essa lembrança provoca uma enorme excitação psíquica e o EU não consegue suportá-la. Nesse momento a pulsão de vida se torna ineficiente e predomina, então, a força da pulsão de morte (Medo, Horror, Tendências destrutivas etc).
Com o objetivo de fugir da excitação causada por tais percepções, o sujeito tem a formação dos sintomas - ou seja  as alucinações (Caso Clara). As alucinações se formam a partir de um medo realístico, o medo de um perigo que, por ela, era julgado real. De certa forma, as alucinações aparecem como uma “cura”, diante do infrentamente e da possivel consciência do inconsciente.
Todas essas percepções de desprazer causadoras das alucinações, fazem com que o sujeito viva como se estivesse em processo de sonho. As alucinações representam uma regressão do psiquismo ao processo primário (fase infantil) – o mesmo processo que comanda o sonho -, o sujeito retorna aos traços nemônicos anteriores  em vez de andar na direção do pólo motor. Este sujeito é incapaz de simbolizar, sendo assim não há uma substituição da coisa pela palavra, pois, quando ele fala, ele traz as coisas em si e não símbolos, ele trata coisas abstratas como se fossem reais, frutos de seus maiores despreazeres.
Freud compara durante boa parte de sua obra o processo alucinatório com o processo de sonho e refere que tal processo ocorre como uma forma de realização de desejos. “Uma certa vivência de satisfação é a aparição de uma certa percepção cuja imagem nêmica fica, daí em diante, associada ao traço que deixou na memória a excitação produzida pela necessidade".

Dessa forma a alucinação se refere ao desejo na medida em que tenta obter a identidade perceptiva com um objeto perdido que proporcionara a primeira experiência de satisfação.
Contudo, a alucinação traz consigo a crença na realidade, pois essa crença está relacionada à percepção através dos sentidos.
Para ficar mais compreensivel e menos constrangedor é importante entendermos que:


FENOMENOLOGIA DO ATO PERCEPTIVO

A sensação (sensibilidade), matéria prima do ato perceptivo, pode ser dividida em:
- sensibilidade externa: consciência do objeto;
- sensibilidade interna: consciência visceral;
- sensibilidade geral: superficial e profunda (refere-se ao sistema osteomuscular e labirinto);
- sensibilidade especial: relacionada aos órgãos dos sentidos.
MODALIDADES DE IMAGENS MENTAIS
1. IMAGEM PERCEPTIVA REAL: possui nitidez (imagem clara e bem delimitada), corporeidade (imagem viva, corpórea), estabilidade ( a imagem é fixa) ; extrojeção (o objeto da imagem está fora dos limites do eu) e ininfluenciabilidade voluntária (a imagem não se modifica pela vontade).
2. IMAGEM PÓS-SENSORIAL OU ECO SENSORIAL: - imagem resultante persiste após um estímulo intenso (como acontece quando se olha para o sol e se fecha os olhos).
3. IMAGEM REPRESENTATIVA OU MNÊMICA:- determinada imagem sensorial vivida na memória (introjeção), sem que o objeto esteja presente e por isso possuindo características inversas da imagem perceptiva real.
4. IMAGEM FANTÁSTICA OU FABULATÓRIA: criação da livre atividade imaginativa.
5. IMAGEM ONÍRICA: ocorre nos sonhos (imagem mnêmica e fantástica).

 ALTERAÇÕES QUANTITATIVAS DA ALUCINAÇÃO PERCEPTIVA
AGNOSIA: o indivíduo não consegue identificar as impressões sensoriais que recebe.
ANESTESIA: ausência de percepção.
HIPERESTESIA: estímulos captados de forma exagerada.
HIPOESTESIA: estímulos captados de forma diminuída.
ALTERAÇÕES QUALITATIVAS
1. TROCA: mudança de uma sensação comum por outra, em geral desagradável. Cacosmia (odor fétido para perfumes agradáveis); parageusia (paladar fétido para alimentos saudáveis); acantesia (dor para alimentos banais).
2. SINESTESIA: troca da qualidade sensorial por outra. Ver sons ou ouvir cores.
3. DESREALIZAÇÃO: estranheza em relação ao mundo.
4. DESPERSONALIZAÇÃO: estranheza de si próprio.
5. FALSAS PERCEPÇÕES:
a. PAREIDOLIAS: percepções fantásticas em um objeto real (imagens de animais quando se olha para as nuvens, mas o observador sabe que o objeto observado é uma nuvem);
b. ILUSÕES: percepções deformadas do objeto real momentaneamente aceita pelo juízo de realidade.
c. ALUCINAÇÕES: aparecimento de uma imagem na consciência sem um objeto real (imagem alucinatória), com as características de uma imagem perceptiva real e por isso aceita pelo juízo de realidade:

- Alucinações Visuais: podem ser elementares (fagulhas, clarões), diferenciadas (figuras, visões), lilipudianas (diminuídas) e guliverianas (gigantes);
- Alucinações auditivas: são as mais comuns, podem ser elementares (zumbidos, estalidos) e diferenciadas (vozes, choros, gritos). Na patologia alucinatória as vozes se dirigem ao paciente (primeira pessoa) e na alucinose alcoólica falam dele (terceira pessoa).
- Alucinações olfativas e gustativas: são raras e quase sempre associadas, consistem em cheiros desagradáveis (gás, lixo, animais mortos).
- Alucinações táteis: formigamento, picadas, queimaduras, animais repugnantes, relacionadas ao uso de cocaína e anfetaminas.
- Alucinações cenestésicas: relacionadas a sensibilidade visceral. Por exemplo, o paciente diz que seu intestino está amolecendo e apodrecendo.
- Alucinações sinestésicas: fusão e troca de duas imagens de qualidades sensoriais diferentes. Por exemplo, ver a cor do som.
- Alucinações cinestésicas: relacionada aos movimentos.
- Alucinações hipnagógicas (ocorre ao adormecer) e hipnopômpicas (ao acordar). Não significam doença, pois podem ocorrer em indivíduos sem doenças psiquiátricas.
PSEUDO-ALUCINAÇÕES: não possui projeção no espaço e nem corporeidade. Surge como vozes internas ou imagens internas e podem ocorrer nas mesmas situações das alucinações tornando-as aceitaveis pela consciência. É comum a associação com fatores parapsicológicos ou religiosos.

Bom diante desse pequeno apanhado a respeito das disfunções Psiquicas ou Simbológicas, podemos facilmente ver que seja qual for o fator alucinatório, existem inumeras variantes para que eles aconteçam, sendo que de todas as descobertas é importante salientar que certas alucinações ou boa parte delas se referem a patologicas neuróticas, psicóticas ou ezquizofênicas mas não em sua totalidade. É bastante comum o aparecimento das Pseudo-alucinações que vem a tona por certas tensões reprimidas em momentos oportunos ou não de tristeza, alegria ou mesmo cansaço emocional.